22 abril 2011

PONTO CRÍTICO 34 : O prestígio da carreira diplomática

Nesta caminhada da democracia,
o prestígio do diplomata sai reforçado,
os portugueses confiam nos seus diplomatas
e sabem que o melhor
que internacionalmente se conseguiu
foi devido a eles, discretamente.
    OS NOSSOS MELHORES DIPLOMATAS, designadamente embaixadores full rank e não apenas por honoris causa, irritam-se, e com razão, por algum circunstancial comentário chistoso que apouque a figura do diplomata, o perfil do diplomata, a utilidade do diplomata. Tal irritação mais justificada parece quando a um comentário se junta outro e outro, fazendo rosário que mais tenderá para campanha rezada contra o prestígio, contra a função e contra o desempenho da carreira, relevando o que desta se decanta como privilégios.
    É claro que mal da crítica que tome um caso particular, ou dois ou três casos que sejam, em que o chiste tenha o seu fundamento suspeitoso, para daí se generalizar. E mal também que se entenda que o escrutínio de algum comportamento individual menos abonável, uma vez lançado para a opinião pública, possa abanar a ideia geral que os portugueses têm dos diplomatas no seu conjunto ou possa beliscar a convicção firme e a confiança também geral sobre o serviço que a carreira diplomática presta ao país.
    Sem que se entre num campeonato entre os protagonistas das funções de soberania ou de Estado - o político, o militar, o juiz e, claro, o diplomata – pelo que, nos últimos anos, tem subido ao noticiário quotidiano e pelo que tem vindo a fazer doutrina dos factos, não é difícil concluir que a ideia mais positiva e a convicção mais firme vai sem dúvida para o diplomata, já que em tempo de paz o militar está na reserva e ninguém se apercebe de algum tiro curvo.
    Não é necessário repetir amiúde essa convicção porque ela existe e essa ideia sente-se. Nos grandes objectivos e nos grandes desafios que se têm colocado ao Estado, a carreira diplomática portuguesa tem desempenhado bem o seu papel, com destaque na "diplomacia política" que permite todas as aspas: tem negociado bem, tem representado bem, tem informado bem, e se não tem protegido mais e melhor, a culpa não pode ser atribuída à carreira mas a quem lhe deve dar meios, recursos e, sobretudo, linhas de orientação para proteger mais e melhor – o diplomata cumpre instruções e a sua atividade não decorre do livre arbítrio. Não se pode fazer omeletas sem ovos, e os casos em que as omeletas poderiam ter sido feitas, ou feitas mais a preceito e com melhor sabor, isso não se deve a uma culpa geral da carreira - os casos de lassidão, de desleixo ou de incompetência são pontuais. Ou seja, não se exclui que alguns diplomatas não tenham sido uns grandes pontos – os tais que dão oportunidade ao chiste – designadamente no que diz respeito à promoção da imagem do Estado (a diplomacia pública), mas não são a regra, pelo que muito do défice nessa matéria se explica pela falta de comando, comando político. E, noutra vertente, não se exclui também que não deva ser ponderada a difícil convivência de carreiras paralelas para a promoção do comércio exterior (a promoção comercial), carreiras essas que ora se anulam, ora dependem meramente de relacionamentos pessoais de titulares (lá em cima, nos patamares intermédios e cá baixo), ora deputam e delegam voluntarismos que invocam o santo nome da coordenação mas em vão e subtraem a explicação de êxitos (houve êxitos) devido a novas dinâmicas, novas visões e novas premências das empresas que tenham meios e conhecimentos para construir as suas próprias "diplomacias", sendo que o segredo está nas aspas.
    Sem dúvida, nesta caminhada da democracia, o prestígio do diplomata sai reforçado, os portugueses confiam nos seus diplomatas e sabem que o melhor que internacionalmente se conseguiu foi devido a eles, discretamente. Os louros não lhes deram grandes manchetes, mas sabem que isso foi assim.
    Carlos Albino

2 comentários:

patricio branco disse...

artigo de opinião correcto, bem argumentado. Gostei

Jose Gomes Martins disse...

Apenas vou inserir-me na promoção do comércio exterior, como já em outras vezes referi. Nesta actividade poderia ter se feito mais e não se levou, por desinteresse, a cabo.
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De quando o embaixador Martins da Cruz, foi ministro dos Estrangeiros, pela mão do ex-primeiro-ministro Durão Barroso, em péssima hora criou o AICEP (Diplomacia Económica) e com isto extinguiu o ICEP .
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O ICEP se hoje existisse teria 61 anos. Desempenhou (embora não independente de Governos) a sua missão, condignamente, na promoção do comércio externo português no estrangeiro. Claro que os quadros directivos do instituto eram políticos.
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O meu caso é um entre outros de funcionários de embaixadas a quem lhes foi dado o estatuto de representantes do ICEP.
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Em 1997 o ICEP nomeou-me, como “manga de alpaca” do ministério dos Estrangeiros, representante junto à embaixada de Portugal em Banguecoque.
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Conhecedor do mercado da Tailândia movimentei-me desde então e incitando empresas portuguesas sondar o mercado. Chegou a SONAE, a SOGRAPE Vinhos de Portugal e outras. Mas com a criação do AICEP estas, modestas representações e de grande valor, desapareceram das representações diplomáticas, cujo custo, mensal, modesto era de 1.500 dólares.
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Recebi uma carta do ICEP, seis meses antes, a informar-me que o lugar de representante, ao fim de 5 anos iria finalizar em Abril de 2002. Fui informar, no seu gabinete, o então embaixador Tadeu Soares que o ICEP iria encerrar a sua representação em Banguecoque. Sem me dizer uma palavra sequer encolheu os ombros.
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O mesmo dizer-me: “se o ICEP vai fechar o gabinete que feche e eu nas malvas para tal. A minha obra de 5 anos estava a ser destruída... e retorqui a Tadeu Soares: “bem senhor embaixador fecharam há pouco a Secção Cultural, agora encerram a Secção Comercial, o melhor é fecharmos a ´loja´ e irmos para casa.
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Nunca mais a missão de Banguecoque teve, oficialmente, secções comercial e cultural e o que Portugal ainda tem para vender na Tailândia, praticamente, é nulo no mercado.
José Martins