O País sentir-se-ia
com algum daquele conforto de que tanto precisa,
se hoje tivesse sido eleito
um Presidente da AR recebendo à entrada
aplausos e reconhecimento equivalentes
aos aplausos e reconhecimento
que Jaime Gama recebeu à despedida
NA ATUAL MOLDURA, o Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, não pode ou não deve ser uma figura qualquer – tem que ter ou deve ter perfil de Estado. Com provas dadas ou com tal bilhete de identidade política que anule à partida qualquer sentimento de insegurança por parte do cidadão.
O presidente do parlamento sai de um partido mas, volta e meia, representa-nos a todos, ou como número 2 como o é por inerência, ou como número 1 nas ausências e impedimentos do residente em Belém. Com isto não se brinca e muito menos se permite fazer experiências, sobretudo numa fase em que o parlamento inquestionavelmente tem relevância nas relações internacionais.
O presidente da AR não é mero regente de banda partidária a quem baste baixar e levantar a batuta como na filarmónica de Chelas. O PSD, a quem compete tal escolha, tinha e tem bastante por onde escolher, mas optou com insistência teimosa num vencido do pleito presidencial, para mais num vencido em terceiro lugar que cedo e inebriado anunciou querer fazer em S. Bento o que, tolhido pelo sufrágio, se propusera fazer em Belém. Para tanto, usou a palavra cidadania como se cidadania fosse uma falácia de que ninguém se dê conta, ou como se esta eleição de junho não fosse a eleição de cidadãos para S. Bento, tendo pois que chamar cidadãos de fora para suprir défices democráticos de dentro, os quais obviamente devem ser corrigidos mas não com falácias bem piores. Queria ele colocar lá dentro a construção civil, ou, sabe-se lá!, transformar aquilo num carnaval de ONG’s? Prefigurou-se como almejando ser um Presidente da República sombra… Então, qual seria o papel do efetivo Presidente da República, caso se coloque de parte a hipótese, que seria perversa, do efetivo desejar tal sombra? Os compromissos que, como foi dito e repetido, se assumiram com tal candidato a deputado almejando fazer nem se sabe que sombra, tais compromissos foram no mínimo esquisitos, e e a insistência em tais compromissos compaginada com aquela cultura de falácia foi também no mínimo inquietante.
Com a maioria de que dispõe e com o acordo político que reforçou o seu papel e responsabilidade parlamentar, o PSD poderia ter evitado este episódio que marcou o inicio da nova legislatura. O episódio, por si só, não prejudica os próximos capítulos mas deixa vestígios e marcas para o desenvolvimento do enredo que todos os eleitores, tenham votado do PSD ou em qualquer outro partido desejariam que fosse inauguralmente um enredo com coerência, maturidade e de Estado. Ou, por outras palavras, o País sentir-se-ia com algum daquele conforto de que tanto precisa, se hoje tivesse sido eleito um Presidente da AR recebendo à entrada aplausos e reconhecimento equivalentes aos aplausos e reconhecimento que Jaime Gama recebeu à despedida.
O PSD tem obviamente gente. Mota Amaral. Ainda não está no depósito de adidos; Guilherme Silva pode ser mais que um eterno vice, ou, mesmo que se queira rostos novos para novos testamentos, Paulo da Mota Pinto já está perdoado por ter sido mandatário, e até caso também se pretenda um ar de sua graça no género, até lá está Maria José Nogueira Pinto, quando, sem questão de género, não se pensasse em Carlos Abreu Amorim fora do seu peso de comentador. Com prós ou com contras deste ou daquele, o PSD poderia ter escrito uma página com serenidade.
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