Supõe estruturas,
meios e quadros
caso não seja mais um exercício
de retórica
É TARDE E A MÁS HORAS que se assume agora, à boca cheia, a diplomacia económica. Nem sempre foi assim. Já houve tempo em que se achincalhava a expressão, também porque alguns a usavam para encobrir propósitos e até interesses menos claros, como se diplomacia económica fosse correia de transmissão para negociatas. Insistir na diplomacia económica chegou a ser uma batalha inglória. Perdeu-se tempo para um assunto que podia ter sido resolvido há dez, vinte anos atrás, quando não foram poucos os que advertiram para a premência de se colocar a economia no centro da política externa. E caso agora se rejeite fazer da diplomacia económica mais um exercício de retórica a juntar a tanta retórica - há este perigo, porquanto os nossos decisores políticos têm retórica em vez de pensamento – isso supõe estruturas adequadas, meios e quadros técnicos. Supõe também que quando se encara um desafio internacional haja preparação e capacidade para questionar como é que tal desafio vai afetar o nosso crescimento económico, independentemente das escolhas na política externa. É um trabalho de casa que há muito devia ter sido assumido como nosso e que a nós nos competiria sem prejuízo dos considerandos europeus que nos levou a fiar na virgem, pelo que não se correu o suficiente. É inegável que têm havido esforços de coordenação entre o comércio externo e a máquina diplomática, em grande parte devidos à qualidade ou consoante a qualidade dos representantes diplomáticos e dos delegados do comércio externo. Com altos e baixos, portanto. Mas tais esforços não preencheram nem podiam preencher ausência de estrutura, falhas de comando e lacunas deixadas em aberto uma vezes por lassidão política, outras por despiques de gabinete que vistos à distância são ridículos e não ilustram. Agora que o país enfrenta um recorde de défice e uma dívida pública insustentável a garrotar o crescimento e a asfixiar o emprego, temos que correr contra o tempo, e sendo razoável que não se espere que a almejada diplomacia económica faça milagres nas exportações e na captação de investimento, alguns pequenos resultados milagrosos já serão suficientes. Mas para isso é necessário montar a estrutura central com espelhos de diplomacia comercial nas representações, ou seja meios e quadros. Quadros há e, tanto quanto se sabe, bons quadros, duvida-se é que haja meios ou possa haver meios, e que também possa haver capacidade e predisposição para quebrar rotinas instaladas.
1 comentário:
Excelente comentário, que subscrevo sem hesitar. Cumprimentos, V. Angelo
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