28 janeiro 2012

Questões frequentes

E eis que o Portal do Governo mudou e com ele ou dentro dele mudaram todas as portas, janelas e postigos governamentais, designadamente o do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mais ou menos o mesmo brilho fosco, apenas com outra iluminação à exceção de um pormenor, o pormenor das questões frequentes. O ministro é o mesmo de há seis meses, agora com a assinatura em destaque para gáudio dos grafologistas amadores, os três secretários parece que são os mesmos com menos dúvidas para o caso de Cesário que apenas mudou o título da função (é, mais uma vez, o secretário de Estado em voo, os outros dois também devem voar mas é como se estivessem sempre aterrados) e lá surge também a pérola da ostra, Vânia Dias da Silva, a Subsecretária de Estado Adjunta do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros que poucos devem saber porque é que é sub, alguns podem suspeitar porque é que é adjunta mas raros devem compreender qual a ciclópica tarefa de que é incumbida para além da de colocar clips nos ofícios de SEXA já que Portugal parece dar-se ao luxo de ter um governo-pseudópode dentro do governo-amiba chamando-se a isso coligação. E não há que ver maledicência nisto: nunca como agora com Morais Leitão Portugal foi tão campeão nos Assuntos Europeus; jamais o País teve tantos Negócios Estrangeiros e Cooperação como com Brites Pereira; e em nenhum momento da nossa história recente, emigrantes, professores, etc, lá fora tiveram um explicador das desgraças ao pé da porta como com Cesário - ele explica as desgraças a quem está desgraçado, e pouco ou nada mais. E quanto à subsecretária, pois também nunca Portugal teve no MNE, como hoje, um verbo ser na voz passiva, o que a gramática ensinava ser improvável. Por eles todos, temos o ministro que fala da política externa, da ação e da atividade diplomática do País com sucessivos óbvios dados com ar de novidade em correio verde, um ministro que fala da Europa como quem ouve alguém de Trancoso a falar de Freixo de Espada à Cinta, um ministro que fala de exportações como que a cumprir o papel de alter-ego de Álvaro Pereira no termo de um mestrado sobre pastéis de nata, enfim um ministro com perfil, como diria Ana Gomes em momento de acalmia de espírito. E é assim que, quando as questões frequentes que o País interessado coloca no dia-a-dia são as de como é isso Angola, como é isso o Irão, como é isso o Norte de África, como é isso o Brasil, como é isso com Espanha, como é isso com a Europa, eis que as questões frequentes que o MNE coloca no Portal do Governo são estas: 1 - Quais as categorias que compõe a carreira Diplomática? 2- Quais as principais funções de uma Missão Diplomática? 3 - O que é o Estatuto da Carreira Diplomática? 4 - Como é que se pode ingressar na carreira diplomática? E compreende-se a razão: os decisores do MNE olham para o País como se este estivesse todo ele a fazer o 12.º de escolaridade que avançado está. Não é brincar demais? Sim, brincadeira de miúdos.

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