26 abril 2013

Angola e a diplomacia de papel

O Jornal de Angolavolta a ser notícia para alguns, por uma manchete - "Espanha afasta Portugal na corrida para Angola" -, e novamente por uns considerandos do diretor desse jornal, José Ribeiro, em mais um editorial em que mistura alhos com bugalhos.

A manchete e a notícia que a suporta, vem a propósito de um Fórum Económico Angola-Espanha, a decorrer em Madrid, com gente de um lado e outro, uns com mais peso, outros nem tanto. Coisa normal entre dois países com relações normais, cooperação bilateral definida e interesses regionais cruzados. A ideia que subjaz na manchete, certamente decorre de uma passagem do corpo da notícia e que é seguinte: Um empresário espanhol disse à nossa reportagem que “o nosso objectivo é criar condições para que Espanha represente em Angola os investimentos da Europa e da América Latina. Temos experiência no terreno e excelentes relações com o Governo e os empresários angolanos”. O empresário não é identificado, o que também não é mal nenhum, não se percebendo porque é que o objetivo quixotesco de representar a Europa e a América Latina, desconhecendo-se se mais alguma região do globo, não tem autoria assumida. Se calhar, por modéstia da reportagem. Mas isso também não é relevante, nem sequer original porque há anos que em Espanha se cultivam personagens sem nome que, em abono da verdade, só não conseguiram uma coisa: começar por representar a Espanha na Catalunha. Daí, lá por um fórum económico em Madrid (grandioso como tudo o que em Espanha acontece), concluir-se em Luanda que a Espanha afasta Portugal na corrida para Angola, é alucinação. Nem a Espanha, ao que se pode saber, está nessa gesta de afastar, nem Portugal deve, é ou pode ser patrão da cooperação com Angola e das relações económicas com Angola. Angola é livre de fazer opções, escolhas ou alianças com quem muito bem entender, seja o Irão, a China ou o Brasil, e Portugal que não é patrão de nada e há muito que deixou de ser colonizador (ou figura disso) não é afastado à vez por cada um, nem por todos em conjunto. Angola é que pode não querer, mas essa é outra história - uma história que compete aos dois Estados reciprocamente explicar em sedes próprias, e não por diplomacia de papel.

E aqui bate o ponto. Se o Jornal de Angola faz uma manchete sobre uma notícia com base numa boca sem nome que deu à língua, a coisa passa a ser notícia, porquê? Porque o Jornal de Angola é o único diário angolano, além disso é estatal e além disso deixa-se sugerir como fidelizado porta-voz governamental, entre aquilo que não se fica a perceber se é fruto de excessivo voluntarismo intestino, se é execução de recado presidencial, se é ordem de serviço das Relações Exteriores. Seja uma, ou outra coisa, ou todas juntas, esta alucinação de uma corrida para Angola disputada entre Lisboa e Madrid a requerer Tordesilhas sob a égide de pontificado angolano, deve ser da passagem pelo equador na normal rota Luanda-Madrid. Isso passa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente. Se o Jornal de Angola não fosse o único (é possível que com tão intensa cooperação espanhola, haja um segundo diário, o "El País de Luanda"), poderia eventualmente ser contraditado. Mas sendo o único, acrescem-lhe responsabilidades. Naturalmente que o director desse jornal sabe o que está a fazer e o que quer atingir. Está nos eu direito, embora se torne evidente que a protecção dada a uma élite angolana, a uma apenas entre as várias élites. Além disso, parece que não passou do tempo em que era conselheiro de imprensa na embaixada de Luanda em Lisboa e cuja missão também parece que era a de mapear os apoios ou simpatias da Unita.

Anónimo disse...

O José Ribeiro é um atrasado mental, um mentecapto ao serviço do Palácio Presidencial e do MPLA. E o Jornal de Angola um pasquim propagandístico dessa mesma clique.
O que J.Eduardo dos Santos, o MPLA e essa tal folha de péssimo jornalismo gostariam de ver era Portugal e os seus representantes políticos de joelhos, em vénias constantes.
Por incrível que pareça, muita daquela gente ainda hoje tem ressentimentos de caracter colonial.
Conheço bem aquela realidade. Um país onde em menos de 10 anos o fosso entre muito ricos e miseráveis é hoje exponencial, maior do que nunca! Com um nível de corrupção impressionante. E onde aquela clique se apropria dos recursos naturais, em vez de os utilizar para ajudar ao desenvolvimento do país e melhorar as condições de vida dos mais pobres.
O Ribeiro é não só um tonto de um arauto dessa clique, mas má rês.
António S.T