12 abril 2013

Os recursos de Cavaco Silva

Claro que alguma expetativa haveria no discurso do Presidente da República na abertura da Conferência “Portugal na Balança da Europa e do Mundo”, uma boa oportunidade para Cavaco Silva acertar o fiel da balança em matéria de política externa e de actividade externa do Estado. No entanto, Cavaco Silva repetiu o que já cansa de ser ouvido, não revelou qualquer golpe de asa, ideias gastas, dessas que estão já expostas no museu político português.

Começou por dizer que "a dureza do presente não nos deve impedir de ver mais longe", um pensamento que, como se sabe, é profundo. Em todo o caso, ficou-se à espera que o Presidente explicitasse o que é isso de "ver mais longe". Entrou, pois, nos recursos que o país pode potenciar. Para surpresa geral dos entendidos, enumerou três recursos: a língua, a diáspora e o mar. Como se falar português com a educação e as escolas a ficarem de rastos, e com os nossos melhores escritores à beira da esmola, fosse recurso. Como se milhares a partirem acossados pelo desemprego e pela desesperança, sem saudades de um território onde se cometem os maiores erros políticos por quilómetro quadrado, e onde especuladores ociosos têm curriculum assegurado perante a impotência dos que ficam, fosse recurso. Como se um mar por onde andam dois submarinos e duas lanchas da Marinha em missões de salvamento por entre os poucos barcos que restaram do abate decretado à exceção da Nau Catrineta que se avista em qualquer ponto da costa, e com os laboratórios de investigação com a corda universitária no pescoço, fosse patriótico recurso.

É compreensível que o Presidente aponte soluções ao longe. Mas, para tanto, tem que formular o problema, os problemas. E isso é que Cavaco Silva mais uma vez não fez - evitou formular os problemas da dureza do presente. Não vê longe e é pena.

Na abertura foi isso, mas como também volta a falar na fechadura da conferência, aguardemos.

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