10 abril 2013

PONTO CRÍTICO 40 : Paulo Portas

Secundarizado,
subalternizado,
ministro de Pouco Estado
    E COMO JÁ SOMOS uma espécie de autarquia municipal dependente do Eurogrupo que é o Ministério da Administração Interna, com os ministros reduzidos a vereadores, o parlamento com os representantes das freguesias por inerência e o PR como presidente de Câmara, que política externa? E que diplomacia? Salva-se, enfim, alguma representação protocolar. Ter política externa é ter voz, usando-a; ter diplomacia é ter capacidade negocial, que em tempo de não-conflito com ninguém provem da força de espírito, de programa com objetivos, de resultados. Quando muito gere-se a “máquina” atamancadamente, em obediência absoluta ao vereador do Orçamento, porque, aceitemos a verdade, uma autarquia não tem competência para recriar um Ministério das Finanças. Nisto, um ministro dos Negócios Estrangeiros, que o designem por ministro de Estado, é ministro de pouco Estado. As consequências destas caricaturas que não estão longe da realidade, revelam-se em cada um de nós na desesperança, na descrença, no desengano, coisas que nem sequer deixam margem para questionarmos a auto-estima.
    No Ministério dos Negócios Estrangeiros há erros mas são erros menores; há omissões, omissões menores; desvios de trajetória, desvios menores. O erro, omissão e desvio maiores, são do Governo, da sua filosofia política, do seu procedimento político, das suas concessões que nivelam cada vez mais por baixo, e que as ambições indisfarçavelmente pessoais,deste ou daquele, não compensam por mais que os indisfarçáveis invistam na sua imagem pública.
    Paulo Portas iniciou funções debaixo daquela chuvada de epítetos de que não tinha perfil. A questão não é de perfil do ministro que tem o seu. Pois um ministro de Estado, pedra sine qua non da coligação mas secundarizado (só quando a pedra é imprescindível é que a condição emerge), e um Ministério ao qual se cometem funções de soberania mas subalternizado e fora de escala própria, só podem fazer vereação, assegurar rotinas mínimas, ler ou citar o manual de sobrevivência. Aquilo a que se tem chamado diplomacia económica fê-lo num ministro mais ou menos da Economia para Estrangeiros, mas porque isso não passou e não pode passar de “promoção comercial”, a coisa esgota-se nas viagens cujo êxito é como nos casamentos agendados, sem que os factos dêem doutrina em troca, sobretudo doutrina política que, quer queiramos ou não, é a base de qualquer política externa, matriz de qualquer atividade diplomática e, já agora, elemento definidor de qualquer perfil.
    Carlos Albino

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