22 maio 2013

Diplomacia, ciência ou arte?

Velha questão: a Diplomacia nutre-se da ciência ou requer arte? A elevação de um diplomata mede-se pela extensão do currículo académico, peregrinação por escolas prestigiadas, exibição de saber teórico adquirido e falas a comprovar domínio de conceitos, doutrinas e relatórios? Ou mede-se pelo talento testado ao longo do tempo nas funções essenciais, nos exercícios que conduziram ao êxito um interesse de Estado, e na pontualidade de ações que impediram que a imagem do mesmo Estado resvalasse para o fracasso, fosse salva do laxismo, ou que nunca se tenha podido dizer que houve omissão ou ausência do Estado, seja no trabalho discreto nos serviços centrais ou no rodopio por capitais? Quanto à ciência, sem dúvida que ela pode manifestar-se no diplomata, desde a iniciação de adido até ao descanso da jubilação de embaixador. Quanto à arte, esta está submetida à lei do tempo, não se compadece com a lógica dos lugares vagos a puxar progressões por automatismo, por consideração pessoal ou por confianças políticas de poderes transitórios acima dos quais está o Estado.

Quer pela doutrina dos factos, quer pelos livros da estante, a cabeça do diplomata deve ser um continente em que ciência e arte sejam juntamente o conteúdo. Ciência porque, consabidamente,  implica o conhecimento tão exato quanto possível das relações jurídicas e políticas das organização e organismos internacionais, dos diversos estados, dos interesses destes, das suas tradições históricas, e das disposições contidas nos tratados. E arte porque nas relações internacionais, de negócos e de pessoas, em que as subtilezas e os imponderáveis imperam, há forças não sistematizadas que exercem domínio. Independentemente de aptidões e capacidade, para a ciência basta algum tempo; para a arte, bastante tempo é incontornável. Maduro na ciência e verde no tempo, o diplomata será, quando muito, um fruto de boa casca mas azedo lá por dentro. Como também, um diplomata que seja verde na ciência embora maduro no tempo, será um fruto peco.

Vem a  propósito, a conhecida citação de Pradier-Fodéré: "a diplomacia é uma ciência em que é preciso aprender as regras e uma arte em que é preciso surpreender os segredos".

Sem comentários: