20 setembro 2003

Bruxelas 5. Que António Cavaco diga se não é verdade

O Governo, entretanto, pedia um duplo sacrifício a António Cavaco: obrigava-o a sair de um cargo a que ascendera com indiscutível mérito profissional e, praticamente, forçava-o a aceitar ser chefe de gabinete de António Vitorino, que se dizia ter outras ideias para o lugar. Mas, ao «sair para o lado», António Cavaco, embora deixando de ser DG, mantinha o seu lugar de funcionário «A1» – a categoria mais elevada da estrutura comunitária. Se Portugal nomeasse outro DG, ficaria com um segundo lugar de A1, o que equivalia a ultrapassar, por exemplo, a «quota» de que a Irlanda então dispunha.

Ora aqui residiu uma resistência específica que viria a mostrar-se decisiva. O chefe de gabinete escolhido por Prodi, o irlandês David O’Sullivan (hoje secretário-geral da Comissão), era o único DG da sua nacionalidade e, ao sair para aquele lugar, não queria que fosse nomeado nenhum outro DG irlandês, por recear nunca mais recuperar tal lugar: parecia preferir que a Irlanda ficasse sem um DG por algum tempo (recorde-se que a Comissão Prodi só viria a obter a sua confirmação pelo Parlamento Europeu no último trimestre de 1999 e que este debate se passa entre Julho e Setembro) e não correr o risco de, se de repente tivesse que regressar à estrutura normal da Comissão, perder o seu anterior lugar de DG. Os receios de O’Sullivan não se concretizaram e hoje a Irlanda tem 3 Directores-Gerais !

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