Representando Portugal na I Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do Mediterrâneo Ocidental, Durão Barroso protagoniza em Tunes mais um grande avanço da afirmação externa portuguesa. O Mar Mediterrâneo apenas indirectamente diz respeito a Portugal mas não seria apenas mau mas péssimo que Lisboa (tal como a Mauritânia) ficasse à margem do fórum que congrega os países ocidentais do Mare Nostrum.
A ter que ser no Norte de África, por deferência estratégica, a cimeira decorre no local circunstancialmente mais conveniente – a Tunísia, embora este país esteja longe de ser exemplo em matéria tão cara à Europa como a dos direitos humanos. Não poderia ser na Líbia que ainda não cumpriu totalmente a quarentena política depois do conturbada punição internacional (as sanções aplicadas pela ONU a Tripoli suspenderam mesmo o diálogo dos 5+5, arrastado desde 1983 por proposta inicial francesa e relançado em Lisboa em 2001). Também dificilmente poderia ser quer na Argélia quer em Marrocos, conhecidas que são as aleatórias tensões entre estes dois países, sobretudo em função da questão do Sara Ocidental e na Mauritânia também ficaria fora de mão. Portanto, a Tunísia serve às mil maravilhas para o nascimento de mais uma organização regional em que a UE tem evidente empenho (por isso, Romano Prodi e Javier Solana estão também em Tunes) mas sobre a qual a União Africana de que os cinco do Magreb são partes, até agora nada disse de substancial.
O pragmatismo domina esta sessão de Tunes e conseguir a formalização do diálogo do Mediterrâneo Ocidental é o objectivo, modesto mas inevitável. O tema estafado da segurança, a questão incontornável da imigração ilegal, a luta contar o terrorismo e a moeda de troca da cooperação, confinam a agenda da cimeira que, também por deferência estratégica, não deve tocar num cabelo dos direitos humanos.
Aguardemos que Durão Barroso trace e revele as linhas que a Portugal interessam e destaque-se alguma aparição de Teresa Gouveia – vai estar com Barroso no encontro agendado à margem com Chirac. Já é mais que em Luanda.
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