Mas antes da história daquele milhão de contos de origem japonesa (NV cumprem o dever cívico de manter algum suspense), diga-se que, a anteceder o Fundo, foram anos e anos em que a inverdade, as meias-verdades e a verdade aproximada contornou, como o mar contorna as ilhas, os dinheiros pagos pelos Emigrantes.
Os «casos» foram muitos, alguns graves outros ligeiros, sendo que tal como no episódio evangélico, quase sempre o justo pagou pelo pecador, ou melhor: os ligeiros pagaram pelos graves. Daí que, sempre que um Inspector Diplomático e Consular actuava não deixando margem para grandes complacências evangélicas do Gabinete ou invocadamente do Gabinete, ah! então, o inpector era uma víbora, um tipo bera e, claro está, sem camaradagem. E quando o Inspector fechava os olhos, perdia o olfacto quando cheirava mal e a audição quando o ruído era de estoirar – diga-se que foi quase sempre a atitude descrita como a mais inteligente para a obtenção de bom ou melhor posto – ah! então estaríamos na presença de um bom homem, ilustre diplomata, perpicaz profissional...
Quem por acaso der-se ao trabalho de ler bem as memórias de um desses inspectores beras, o embaixador José de Noronha Gamito e que estão reunidas em dois volumes sob o título de Nesciedades, Distr. Civilização, 1992, perceberá como foi possível que um conselheiro de imprensa colocado no pós-25 de Abril na Representação de Portugal junto da ONU, tenha conseguido receber duplo vencimento por larguissimo tempo – um, depositado em Lisboa numa conta à ordem e o outro, por adiantamento do cofre consular de Nova Iorque, melhor dito: verbas dos Emigrantes... Quando o inspector decidiu actuar seguindo os procedimentos e a lei, ou pior, quando teimou em continuar a actuar, não só viu o processo ser arquivado por pressão política que as memórias identificam com nitidez, como também o embaixador passaria a ser alvo de humilhações profissionais.
Houve, de facto, uns tempos áureos do Saco Azul e que condicionaram ou estimularam muitos comportamentos descomandados e fora de qualquer escrutínioe forado próprio saco: negócios com dinheiros públicos em mercados negros (Argentina, por exemplo), casos de contrabando, colaborações com polícias secretas (no Leste, por exemplo), roubo de bens patrimoniais de residências, e por aí fora. Passou, prescreveu, alguns já morreram.
Sentia-se pois a necessidade de moralizar as Necessidades. Faltava era o «forte pretexto». E foi assim que...
(Segue)
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