Ajudemos José Sasportes na espinhosa tarefa de preparar a candidatura do «Anuário Diplomático e Consular Português», editado neste magnífico ano de 2004, a Patromónio Mundial da Humanidade.
Começa por mentir no nome. Este magnífico calhamaço começa por mentir no nome: um anuário publica-se todos os anos, mas este, o português, é editado de cinco em cinco anos – portanto é um Pentanário ou talvez qualquer outra designação que apenas José Pedro Machado poderá desencantar... Não há chancelaria deste mundo que cometa tal proeza!
Expediente e esperteza. O Estaline mandava purgar indivíduos hostis das fotografias substituindo-os por outros. O nosso pentanário que já chegou a ser heptanário, pura e simplesmente purga. E é assim que pela primeira vez desde o 25 de Abril os Secretários e os Subsecretários de Estado desaparecem da lista dos governantes, deixando-se de ter a história política completa do MNE. Assim, por uma esperteza editorial e que cheira a vingança de corredor, as purgas, por exemplo, de Jorge Sampaio, de Luís Moita, de Leonardo Mathias, de Gaspar da Silva, de Paulo Ennes, de Seixas da Costa, de Lourenço dos Santos e... de José Cesário, sendo que Martins da Cruz é dado como o último ministro. No que toca a Cesário foi, pois, a última "cesariana" a ocorrer nas Necessidades! Mas ainda mais um exemplo que convirá para o trabalho de Sasportes - o carismático Vitor Martins, com 10 anos de excelentes serviços prestados ao MNE, desaparece do mapa da diplomacia da respectiva história, onde, contudo, permanece olimpicamente esse farol da diplomacia que dá pelo nome de Pires de Miranda, a somar a outros faróis como Paulo Cunha, em função sobretudo do apelido.
E não foi por falta de espaço, porquanto o mesmo Heptanário Diplomático e Consular Português não deixa de assinalar com o devido destaque que as auxiliares de limpeza das Necessidades Marta Antunes Fernandes, Adozinda Jesus Estrela Nascimento, Maria Luísa André Paulos e Mariana Franga Varela, e ainda os motoristas de ligeiros João do Nascimento, António Rui Costa, Domingos Caetano, António da Costa Fernandes, Henrique Inácio Ventura e José dos Santos Almeida, se aposentaram desde 31 de Dezembro de 1999 até este «anuário» de 2004, o que não deixa de se traduzir em grave e manifesto prejuízo, portanto, para a política externa portuguesa!
Tesouradas. Bem, não falemos por ora das tesouradas nos curriculos dos diplomatas. Fica para depois.
Fotografias. Ah, as fotografias. Ali está Jorge Sampaio sem a bandeira nacional ao lado ou em fundo, com ar de monarca destronado e sorriso amarelo de como quem pede ao Presidente da Polónia apoio para António Vitorino. O símbolo nacional apenas se destina no heptanário ao primeiro-ministro José Manuel Barroso que já prepara a bandeira da UE para a sua fotografia oficial actualizada. Dos símbolos nacionais, Mota Amaral nem um castelo, uma chaga de Cristo que fosse, apesar de ser a segunda figura do Estado Português. E claro, uma glamorosa foto de Teresa Gouveia que teria actualidade assegurada e consensualmente fiel no heptanário de 1999. Também em matéria de fotografias, José Sasportes tem argumentos para convencer a UNESCO.
Humor negro. Mas a maior prova de inteligência vamos encontrá-la no título do CAPÍTULO VII e que é assim: «FUNCIONÁRIOS FALECIDOS DEPOIS DA ÚLTIMA PUBLICAÇÃO DO ANUÁRIO»... Não é necessário dizer mais: se o Anuário não tivesse tido «a última publicação», os funcionários não teriam falecido mas apenas teriam sido exumados do pentanário para não falar do anterior heptanário.
E agora, Sasportes, trabalhe s.f.f.
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