02 setembro 2004

Camões. Perseguições por delito de opinião?

Relatório de Informação N.º 04 - 02/08/04, do Conselheiro de Embaixada Zeca Machuca.

Excelência

1. Na sequência dos reportes anteriores, dou conta de uma ocorrência com que acabo de ser confrontado. Como VEXA sabe, trabalho em condições precárias no cumprimento desta missão de observação do Instituto Camões, organismo autónomo mas que ainda está no quadro institucional do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Trabalho, pois, à mesa de um simpático café onde montei o arraial – e passe a publicidade é o Maria Café, assim mesmo. Ora aconteceu que hoje mesmo, ao instalar-me na modesta mesinha, deparei com um envelope sobre o tampo, a mim dirigido. Abri, li e confesso que tive dúvidas sobre se deveria levar ao conhecimento de VEXA o teor da missiva. È o que de imediato farei, permitindo-me chamar a atenção para o que faço destacar no primeiro parágrafo e que, ao que constatei, posso dar por conformado, mas não incomode o Senhor Ministro com este triste pormenor:



«Saúdo a atenção que o Conselheiro de Embaixada Zeca Machuca tem dado ao ICA. O resultado da sua acção é já visível: perseguições doentias, atitudes dignas do outro regime, certamente feridas de ilegalidade...

A situação vai de mal a pior. Os funcionários e colaboradores afastados não têm nada para fazer porque a "senhora" Chefe de Divisão, futura Directora de Serviços, decidiu cortar-lhes o trabalho. Cobardemente não chamou ninguém para explicar porque os estava a afastar e a substiuí-los por seus amigos, professores requisitados, alguns dos quais chegaram ontem, dia 1 de Setembro, em vez de se irem apresentar na Escola.

Conclusão: a Direcção de Serviços tem trabalho a menos e pessoas a mais. Quem não caiu no goto, quem não é motorista pessoal, quem não é confidente, não é válido nem capaz de executar as tarefas que nesta casa já desempenhavam há anos, alguns mesmo até muito antes desta "senhora" aparecer.

Por todo o lado neste Instituto se ouvem queixas, os contínuos, as secretárias, os técnicos, alguns Chefes de Divisão, alguns Directores de Serviços, e, para espanto geral, a casa vai-se enchendo de Simonettes (como agora são conhecidos) e de Madaleno-Arrojetes (em honra da futura Directora de Serviços).
Até Dezembro vão ser dispensados 30 colaboradores a recibo verde e com bolsa, sem critério, uma vez que o argumento apresentado para estes despedimentos é falso, como facilmente se pode comprovar pela leitura do Relatório da Direcção Geral da Administração Pública.

No meio disto tudo, há dezenas de processos em "stand-by", pessoas profissionalmente perfeitamente válidas na prateleira, por causa de desígnios desconhecidos e que, cobardemente (devo insistir), não são definidos.

A Língua e Cultura Portuguesas no Mundo sairão prejudicados no meio disto, sem dúvida nenhuma, como, aliás, já se pode ir observando em casos específicos.
Os melhores cumprimentos desta pessoa desiludida, que aguarda ansiosamente pelo texto de fundo sobre a diplomacia cultural, enquanto vê o novo Palácio Seixas inundar com as águas da chuva, apesar do restauro recente....

(Ass. ilegível)

2. Se assim é, a história do Camões ainda vai acabar mal.

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