Se há actividade externa do Estado Português que deveras seja melindrosa, sem dúvida que é aquela que a presença da GNR no Iraque suscita. Os portugueses foram e estão a revezar-se com uma finalidade estritamente securitária - até porque a GNR é uma força de segurança - mas o cenário é militar. É de guerra. Integrados no comando italiano, já safaram os italianos de situações de encurralamento com uma actuação no terreno que foi exemplar no ponto de vista militar - fizeram com surpreendente eficácia mais do que lhes foi pedido, muito mais do que lhes é exigido e muito acima do que os militares italianos esperavam dos portugueses. Mas são homens, homens que estão no terreno e para quem pouco dizem os comentários políticos de Lisboa escritos no sofá, por mais brilhantes que sejam. Naturalmente que sobre a questão iraquiana, todos os comentaristas domésticos de todas as sensibilidades, têm a moral em cima. Aliás, uma das condições para se ser comentarista de êxito é ter a moral em cima pelo que, mesmo que ela esteja em baixo, para o comentário correr como bom é necessário disfarçar.
Ora a demora, o arrastamento ou a forma como a decisão da prorrogação da presença da segurança portuguesa disponibilizada para o Iraque foi tomada e sobretudo gerida, não só feriu a moral dos que estão lá, como também chegou a contaminar a moral dos que vão partir. E a moral de uma força de segurança que no terreno acaba por funcionar como tropa a sério num cenário militar e de guerra evidente, não se levanta com meia dúzia de reportagens para revistas de fim de semana, nem como se chegou a pensar com um cantor cuja voz por si só já será um risco moral, e muito menos com uma bola de futebol autografada por um craque como aquela que Teresa Gouveia lá foi colocar no perfeito jeito de tiro curvo da política. Mas também, de modo nenhum, tal moral se eleva com este ambiente de «desresponsabilização» pela presença da GNR no Iraque, em jogos formais que não deixam de ser jogos florais. O assunto é sério demais. Se num primeiro momento - o inicial - se admitia uma discussão entre os órgãos de soberania sobre quem é competente para assumir a decisão, retomar esse jogo de pinque-pongue agora, é coisa trágica, repercute-se na moral da GNR e faz desfalecer a diplomacia implicada no caso e, já agora, também implicada no terreno.
C. A.
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