Muito barulho, há uma semana, com a figura do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados que acode por ACNUR, sigla que até parece de remédio para venda livre em hipermercados.
Mas o barulho não foi pelo que isso tem de remédio mas pelo que teve de Vitorino.
Nem se duvide que os Portugueses, pelas marteladas sistemáticas dos jornais, rádios e televisões sobre Vitorino-ACNUR, por dois dias inteiros, em vez do Bom dia ou do Como estás, cruzaram entre si reciprocamente uma patriótica e inovadora preocupação saudatória: «Você já tomou o seu ACNUR hoje?».
Foi um remédio mas apenas por dois dias. E que remédio deixou de ser, quando a Pátria ficou a saber que Vitorino tinha sido convidado para ACNUR mas que o ACNUR recebeu a sua nega. É claro que a Pátria, se pesarosa estava, mais pesarosa ficou.
E sendo assim o ACNUR desapareceu da farmácia política, foi retirado da estante diplomática do nosso hipermercado mediático e se é que existe ainda alguma dose de ACNUR em Portugal, ela deve estar na secção de perdidos e achados da PSP de Lisboa. O ACNUR desapareceu, passou para o mundo das coisas ignotas e que nenhum cidadão que tenha perdido tal remédio, por falta de valor reclama. Nem Vitorino.
Só que o ACNUR existe no mundo, mesmo que Portugal disso não dê conta.
Hoje mesmo, o chefe da diplomacia francesa Michel Barnier confirmou que o governo de Paris manifestou o seu apoio à candidatura do seu ex-ministro da Saúde Bernard Kouchner para ACNUR. Kouchner foi entre outras coisas um dos fundadores da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras que, por acaso muitos Portugueses, se não em maioria absoluta a avaliar peloos peditórios, julgam tratar-se de uma organização nobremente portuguesa.
E ainda Michel Barnier soletrava as últimas sílabas desse apoio, eis que também o executivo espanhol entrou na competição para o lugar deixado vago pelo resignatário Ruud Lubbers para quem Genebra é triste recordação sem remédio na sequência de acusações de assédio sexual e intimidação a uma funcionária deste organismo. Madrid apoia a candidatura do seu diplomata veterano Fernando Valenzuela e o caso foi oficialmente confirmado pela vice-presidente e porta-voz do governo espanhol, Maria Teresa Fernández de la Vega. E a porta-voz de Madrid faz mais uma típica da diplomacia espanhola, manifestando-se convicta de que a candidatura do diplomata de Madrid "terá o apoio da União Europeia". Claro que terá... para além de Madrid e Paris, também a Dinamarca, Suécia e Itália, na área da UE, apresentaram candidaturas , sendo necessários pelo menos quatro Vitorinos por essa Europa com Kofi Annan a viajar de capital em capital convencendo os candidatos à desistência, para que o orgulhosa honra diplomática espanhola seja salva. Além de que fora dessa área Austrália e Tunísia entraram também na corrida à sucessão de Lubbers.
Portugal resolveu o assunto como sempre resolve os problemas incómodos da sua diplomacia: na secção de perdidos e achados.
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