21 abril 2005

Briefing da Uma. Assinatura, Catalunha, Bento ou Benedito, Aviões e Freitas/Rice

Briefing da Uma. Nem mais nem menos, a divisa da Força Aérea dos Estados Unidos da América: «As coisas difíceis fazemo-las imediatamente; as impossíveis levam mais algum tempo».

1 – Autoria de Notas Verbais
2 – Nacionalidades de Espanha e Nações…
3 – Bento ou Bendito?
4 – Aviões
5 – Freitas/Condoleeza Rice

1 – (Porque motivo decidiu colocar o seu nome, bem visível, nas Notas Verbais?) - «Essa é uma boa pergunta. Como sabem, a autoria de NV foi sempre assumida eventualmente perante visados mas também sempre discretamente sugerida para todos os leitores – apenas não deu por isso quem não quis. A decisão de se assumir em pleno a autoria desta página veio na sequência de termos chegado à conclusão de que estavam esgotados por completo os pressupostos de uma intervenção profissional e com dignidade no Diário de Notícias, a qual durou 23 anos em 33 de carreira. Como se costuma dizer, virámos a página porque não fazer isso seria pactuar com condições humilhantes para um jornalista que se tem por probo, frontal e com mãos limpas. A decisão não foi voluntária mas foi livre e, já agora, apenas ditada pela recusa de um suicídio lento e inútil.»

2 – (O novo estatuto previsto para a Catalunha prevê a substituição de nacionalidade pela de Nação. Isto não deverá obrigar a que alguns altos responsáveis do Estado Português corrijam terminologia?) - «Na verdade, por efeito de algum europeísmo neurótico, alguns altos responsáveis têm vindo a reduzir a ideia de Portugal à de Nação o que, caso vingasse esse esforço redutor, nivelaria o Estado Português à Catalunha, num contexto ibérico… Segundo o texto proposto pelos socialistas de Barcelona, «A Catalunha é uma Nação que, no exercício do seu direito de autogoverno, se constitui em comunidade autónoma de acordo com a Constituição (de Espanha) e com o presente Estatuto, que é a sua norma institucional básica…» Daí se compreenda como, para os catalães, quanto mais Europa, mais Catalunha – o que também traduz o que é o europeísmo espanhol e a própria ideia de Espanha porque a Espanha não perdeu a sua «ideia», como a França não perdeu a ideia de França e muito menos a Alemanha a sua ideia de Alemanha. Aliás, nem o Luxemburgo perdeu a «ideia» de Luxemburgo! Em Portugal, pelo contrário, pensam alguns que a ideia de Portugal é redutora da de Europa, pelo que não se importariam até com o desmantelamento da máquina diplomática portuguesa que, em tempo de paz, é a legítima portadora da ideia de Portugal. Naturalmente que algum discurso político deve ou tem que ser revisto e corrigido.»

(A Catalunha pretende agora aderir ao espaço da francofonia…) - «Estratégico, meu caro, estratégico… Maragall, a troco do reconhecimento do catalão como língua oficial da União Europeia, oferece o comprometimento da Catalunha com a Organização Internacional da Francofonia. O presidente da Catalunha encontrou-se ontem, em Paris, com Michel Barnier a quem expôs as intenções ou objectivos de Barcelona.»

(Quer isso dizer que, pela mesma ordem de ideias, a Galiza poderia igualmente, em função de vizinhança e proximidade linguística, entrar pela lusofonia e falar com Lisboa…) – «Duvidamos que Madrid visse bem ou tolerasse o assunto com Lisboa. A Catalunha sabe que a França tem uma ideia de França mas a Galiza não desconhece que Portugal não tem uma ideia de Portugal ou que, se a tem, escusa-se a mostrá-la. O nosso estimado e indomável Adamastor deixou de estar no Cabo da Boa Esperança – está em Madrid. Vão todos lá dobrar o Cabo Tormentório, alegremente e com ar de intrépidos marinheiros.»

3 – (O novo Papa, em meio mundo é Benedicto XVI, traduzido para inglês é Benedict XVI, em França é Benoît XVI, em Portugal é Bento XVI… Em que ficamos, se em Portugal há tantos Beneditos e Beneditas nas listas telefónicas?) - «Nessa matéria, o embaixador de Portugal junto da Santa Sé, Rocha Paris, tem a palavra…»

4 – (Portugal comprou 12 aviões espanhóis de transporte militar. Comenta?) - «Não há comentários a fazer, factos são factos. O ministro da Defesa Luís Amado decidiu-se pela compra de 12 C-295 por 274 milhões de euros à empresa EADS-CASA que é a filial espanhola do consórcio europeu, empresa essa que, associada à EMBRAER (Brasil) comprou em 2004 por 11,4 milhões de euros um total de 64 por cento das acções da OGMA, a chamada indústria aeronáutica portuguesa. O fornecimento dos C-295 foi em competição com o C-27J do consórcio formado pela Aleni (Itália) e a Lockheed (EUA) que tem dez dias para se opor. Os aviões destinam-se a missões de transporte táctico e de vigilância marítima. Aguardemos o desenrolar dos factos.»

5 – (Como NV previram, à primeira e justificada oportunidade, a secretária de Estado norte-americana convidou Freitas do Amaral para uma deslocação oficial a Washington. Comenta?) - «Naturalmente que comentamos. Esse convite foi hoje mesmo em Vilnius (Lituânia) formalizado a Freitas por Condoleeza Rice e, permitam-nos, o ministro português brilhou. E brilhou porquê? Primeiro, porque o ministro, ainda com o convite quente nas mãos, foi directo ao assunto: quem mudou não foi ele Freitas, mas sim ele Bush, agora reiteradamente convertido ao multilateralismo e ao primado das soluções diplomáticas – matéria em que Freitas já tinha feito profissão de fé quando exerceu a presidência da Assembleia Geral da ONU. Segundo, porque o ministro soube aguardar, sem nervosismo, pelo momento mais adequado em que Washington poderia concretizer um sinal de mudança – a reunião ministerial da NATO que (hoje mesmo) celebrou com Moscovo um acordo de cooperação a tocar na parceria, reunião concretizada a pedido de Portugal. Diplomaticamente significativa foi também a aceitação por Condoleeza Rice do convite de Freitas à secretária de Estado para que visite também oficialmente Portugal. A fábula ensina que haverá em Portugal gente que é mais Bush do que o próprio Bush… Já lá diz a divisa da Força Aérea dos Estados Unidos da América que «As coisas difíceis fazemo-las imediatamente; as impossíveis levam mais algum tempo»

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