Briefing da Uma. E sobre a língua, Victor Hugo continua a ter razão: «Guerra à retórica e paz à sintaxe!». A Francofonia aprendeu a lição.
1 – São Tomé.
2 – Reuniões da CPLP.
3 – Pedidos de Sampaio
4 – Um site com retórica arcaica e sem qualquer sintaxe
1 – (Freitas do Amaral recebeu hoje a seu pedido o MNE de São Tomé. Quer isso dizer que o ministro pretende reavaliar os rumos da CPLP?) - «Muito embora, como “organização internacional” já exiba as primeiras cãs, a CPLP continua a reclamar-se de organização jovem tal como os velhotes do Jardim Constantino. Na retórica e apenas com retórica, envelhece-se muito rapidamente. Ora Portugal vai receber, em Julho, a décima reunião ordinária do Conselho de Ministros dessa organização e São Tomé é o estado que exerce a presidência. A reunião convocada por Freitas do Amaral é assim um acto esperado e lógico, além de que a lusofonia é uma das grandes prioridades da política externa portuguesa. O país que acolhe, no mínimo, tem que saber aquilo que o país que preside quer e agenda.»
(Mas Portugal tem responsabilidades altas no secretariado executivo…) - «É verdade. Em Julho de 2004, o ministro plenipotenciário de 1.ª classe Tadeu Soares foi eleito na Cimeira de São Tomé, para o cargo de secretário executivo adjunto da CPLP. Passado um ano, poiuco ou nada se conhece da sua actividade, por certo muita.»
2 – (Que reuniões políticas estão previstas no quadro da CPLP?) - «Como vos disse, para além daquela X Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, está marcada para Bissau, em 2006, a VI Cimeira. Ora em Bissau… aí temos de novo Nino Vieira, Kumba Ialá e o mais que nunca se sabe no que dará. É uma preocupação para as chancelarias, para a retórica e para a sintaxe.»
3 – (É nesse sentido que podem ser interpretados recentes pedidos de Sampaio à CPLP?) - «Não se sabe se Jorge Sampaio, quando visitou a 18 de Abril a sede institucional da CPLP, fez retórica ou produziu sintaxe. Admitamos que tenha havido sintaxe.»
(Pode recordar então essa sintaxe?) - « Sampaio, no fundo e fiel ao seu estilo, pediu à instituição que funcione… Reclamou à CPLP ‘acções mais criativas e agressivas na promoção e na difusão do português, principalmente em países fora do espaço lusófono’ omitindo no entanto referências directas ao chamado Instituto Internacional da Língua Portuguesa que retoricamente entrou no anonimato político. Sampaio centrou discurso na língua defendendo o óbvio: uma ‘acção concertada e sustentada, sendo necessário ‘agir de forma coordenada, criativa, mais agressiva e sustentada no tempo’. E chegou à óbvia conclusão: ‘Por muito que estejamos a fazer, podemos e devemos fazer mais’, que ‘temos de passar à ofensiva também em países terceiros’ e que ‘devem ser feitas campanhas não apenas de oferta mas que suscitem também a procura do ensino do português. Além disso, reproduziu a papel químico a mesmíssima sintaxe usada para o Instituto Camões, ao ter considerado como ‘vital’ a aposta na produção de materiais didácticos e no reforço da imagem multifacetada da língua portuguesa. Só que o Camões não pode nem deve substituir-se ao IILP, este IILP não é a CPLP e esta CPLP tem muito de lusofonia nos subsídios, nos financiamentos da cooperação e no turismo político, mas pouca lusofonia na seriedade multilateral. Sim, o multilateralismo não existe sem seriedade e sem transparência nos projectos e nos programas. Não se pode aceitar euros portugueses com uma das mãos e apontar com o dedo da outra um fantasmagórico colonialismo que a lusofonia não tem nem pode ter. Não é verdade Brasil?»
4 – (A CPLP tem algum site?) - «Boa pergunta. Como os senhores sabem, em 2005, é legítimo confrontar qualquer organização ou instituição internacional com a adaptação daquele velho ditado lusófono: diz-me que site te acompanha e dir-te-ei quem és… Ora o site da CPLP é uma lástima, dizendo tudo. A agenda do Secretário Executivo, Monteiro da Fonseca, está vazia e dele claro que consta apenas exaustivamente o curriculum! Discursos e textos? Nenhum. A Concertação Política está vazia. Na área da Cooperação os dados mais recentes reportam-se a Março de 2004. O Fórum Empresarial empancou em 2003. Do ministro plenipotenciário Tadeu Soares, só consta o nome. Da Língua Portuguesa, para além dos Estatutos do IILP e das actas da II Assembleia Geral de 2003, nada mais. É claro que alguma informação mas arcaica - Bissau, OIT, umas idas a Nova Iorque ainda do tempo do saudoso Embaixador Médicis… O resto está há muito ‘em construção que é a desculpa virtual para quem tem peso na consciência. Se a CPLP nem um site consegue fazer, como é que pode andar acompanhada de boa sintaxe? Possivelmente a CPLP não declara guerra à retórica porque apenas vive da retórica.»
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