Briefing da Uma da Madrugada. Pois, foi mesmo Jacinto Benavente que observou: “A ironia é uma tristeza que, não podendo chorar, sorri”.
1 – La Lyz
2 – Sócrates/Villepin - dia enguiçado
(Declaração prévia) – Senhores, senhoras, vocês solicitaram a marcação de briefing para esta madrugada do dia 9 de Abril, com todo o gosto estamos à vossa disposição, embora estranhemos. Amanhã, dia 10, como sabem, o primeiro ministro está em França, estranhamos a vossa urgência...)
1 – (Não estranhe. Sócrates poderia antecipar em um dia a deslocação à França e, politicamente, não ganharia mais no dia 9 do que no dia 10 ?) – Mas que pergunta a esta hora da madrugada! Que história é essa do dia 9?
(Então não sabe que há muitos Largos 9 de Abril e muitas Ruas 9 de Abril por cidades e vilas portuguesas? Mas então o senhor é porta-voz de quê, para desconhecer isso?) – Sim, na verdade há muitos largos designados por 9 de Abril., mas... confessamos... o que tem a deslocação de Sócrates a ver com isso?
(Não brinque connosco, por amor de Deus! Então o senhor que certamente sentiu, há escassos dias, a lembrança e empenho oficial pelas comemorações turcas do 91º aniversário da Batalha de Gallipoli, não sabe que hoje, 9 de Abril, é o aniversário da Batalha de La Lyz onde tanto sangue de portugueses ficou? E nem uma palavra?) – Ah! Sim, a Batalha de La Lyz, claro La Lyz, pois evidentemente, o contributo português... é claro que deviam ter avisado o primeiro ministro, bem, é possível que tenha havido uma falha técnica... até porque hoje, Domingo, é claro... sim, ao menos uma palavra, mas é possível que o Embaixador António Monteiro tenha programado alguma coisa condignamente, ele próprio, como todos os anos. Nós, por acaso, não acedemos ao site oficial da Embaixada de Portugal em Paris, é bem possível que por lá consta alguma iniciativa...
(Peço licença! Acedi ao site e não consta nada! Aliás no site da embaixada portuguesa, na página de actualidades, o que de actual consta é unicamente a transcrição integral da declaração do porta-voz do Quai d’Orsay do dia 7 sobre a visita de Sócrates, sem referir origem, como se fosse da embaixada portuguesa!) – Não acredito! O senhor está a caluniar a chancelaria!
(Não acredita? Então com esse seu dedo clique aqui, clique AQUI, e leia com os seus próprios olhos! Será que o porta-voz do Quai d’Orsay já é conselheiro de imprensa da embaixada portuguesa?) – Vamos ler e já. (... após momentos de leitura...) Sim, tem razão. Mas, como deve ter observado, em Notas Verbais transcrevemos essa declaração atribuindo-se a procedência. Não será o caso de transcrição por lapso de Notas Verbais? Bem, não sabemos. Em todo o caso, é muito provável que o embaixador Monteiro Embaixador de Portugal em Paris se desloque ainda hoje ao cemitério militar português de Richebourg, Norte-Estreito de Calais, onde sem dúvida que acompanhado por representantes da Prefeitura regional, das ligas de antigos combatentes e do Secretariado de Estado dos Antigos Combatentes, pois certamente irá depositará uma coroa de flores, e assistirá à prestação de honras militares.
(O senhor fala em provavelmente. Mas vai ou não vai?) – Bem, Sócrates, de certeza é que não irá. Até porque, segundo nos indicaram, não chegou a tempo ao gabinete do primeiro ministro um informe a dar conta de que em La Couture, pequena comuna do Departamento do Pas de Calais, há um monumento, construído salvo erro em 1927, por subscrição pública portuguesa, em mármore ou pedra branca, onde pontifica a frase: "Le Portugal reconnu à la France Immortelle". Nas imediações morreram mihares de militares portugueses, quando o Corpo Expedicionário Português ficou exposto a um ataque alemão, após uma retirada das forças britânicas que guarneceram o flanco, sepultados no cemitério de Richebourg. É bem possível que esse papel tenha ficado retido algures...
(E esse papel apenas dizia isso?) – Bem, nesse informe acrescentava-se que em toda aquela região por esta altura do ano, é possível passear entre campos floridos de papoilas e deparar com cemitérios tão diversos como os das forças ANZAC, os batalhões canadianos ou até um cemitério hindu. Igualmente numerosos, mas não identificados por qualquer símbolo ou sem a nacionalidade nomeada são os cemitérios de militares derrotados. Mas, reconhecemos, a vossa questão, é uma boa questão e obriga-nos a duvidar sobre a forma como a República Portuguesa assinalará o 78º aniversário da Batalha de La Lys. Enfim, lamentamos que apenas tenhamos pensado em Gallipolli, talvez porque João Jardim já tenha a ver alguma coisa com política externa...
(O quê? Que disse?) – Nada, nada. Foi um à parte. Passemos a outra questão.
2 – (Outra questão que se liga à mesma. Não acha que se Sócrates, a pretexto das comemorações de La Lys e da evocação do sacrifício português, tivesse partido hoje para França, teria a imagem política do seu dia 10 de amanhã facilitada?) - É provável. O dia parece estar enguiçado. O encontro com Chirac foi adiado por uma hora, para as11:00 locais. Chirac, Villepin e o UMP têm uma reunião crucial na Segunda de manhã na tentativa de encontrarem um destino para o famoso CPE, e os senhores compreenderão como não estará o estado de espírito do primeiro ministro francês, às 12:300, para receber Sócrates, entre cenários de demissão. E se ocorrer nova desacreditação pública, pior.
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