Houve muito Anás e muito Caifás. Para boa parte do Mundo, é a Semana Santa que deixa para quase todo o mundo a ideia de via-sacra como símbolo não-caricaturável. E só por isto vale a pena subir de novo a escada da estante e tirar bem lá do alto, este livro "Memória das Palavras" (Vol I. Política, que teve pequena tiragem (2000 exemplares) mas é um grande documento. E lá está o relato de Angusto de Castro do encontro com Bento XV, em 1922; lá estão as clarividentes respostas de DFA numa entrevista de 1980, quando Portugal se lhe sugeria ser um Monte das Oliveiras; de Alberto João Jardim, ainda soldado romano em 1983; Melo Antunes, 1984; Mário Soares, em 1987; Mota Amaral, 1988; PR ACS, em 1989... Veradeira via-sacra do século passado português que fez transitar calvários e ressurreições para o século presente. Mas também via-sacra de gente um pouco de todo o mundo, mundo que não passa de condomínio de alguns que efemeramente se tomam como senhores de décadas e mais não representam que alguma das estações da penosa cena bíblica, por vezes comovente outra deveras repulsiva - de Afonso XII, Afonso Costa, Mussolini, Salazar e Franco até Giscard, Indira Gandhi, Samora Machel e Collor de Mello...
Alberto João Jardim, por exemplo, sagazmente convidado por Alice Vieira, a definir-se: «Eu? Eu sou eu. (...) Eu acho que uma pessoa deve rir-se dos outros, mas deve sobretudo rir-sede si próprio. Claro que me rio de mim, e de que maneira! Acho imensa piada a mim próprio! Vejo-me a fazer bluff e acho graça. Mas alto aí! Sei perfeitamente parar a tempo, quando o caso é sério." Tal como os soldados romanos da via-sacra.
Boa leitura e muita sorte no alfarrabista. (Memória da Palavras, Vol. I Política; Diário de Notícias/Imprensa Nacional-casa da Moeda; 1990; 446 pág.s).
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