Metamorfoses. O Ministro Luís Amado mostrou hoje no parlamento ainda muito mais o ar de Ministro da Defesa do que a aragem própria do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Na Defesa, até a palavra deve soltar-se com farda n.º 1, nunca a de gala, a compensar o corpo do político operacional à paisana. Nos Negócios Estrangeiros, a palavra deve exibir só muito discretamente os dourados de um suposto uniforme diplomático, mas dando com visibilidade largas à capacidade do político negociador em falar até dos espinhos como se fossem convincentemente veludo.
Naturalmente que um Ministro dos Negócios Estrangeiros, nos primeiros tempos, não se livra do ar de onde vem ou de onde lhe convém que se pense ter vindo – Freitas, por exemplo, na reposição do seu filme nas Necessidades, mantinha inicialmente o ar de presidente da Assembleia Geral da ONU que, para além de não ter farda própria, não passa de um passageiro item da agenda de Nova Iorque. Depois, viu-se como ora o jurista sufocava o diplomata a quem se perdoa tudo no mundo das neutralidades menos o andar distraído metendo a Austrália na NATO, ora o examinador de cátedra dissimulava num ar de rigidez os arranjos de pauta combinados com os subalternos que na secretaria precisam sempre de ter topete.
Lá para Setembro ou Outubro, Luís Amado terá outro ar e perderá este ar da Defesa que está a passar para Nuno Severiano Teixeira. Demos tempo ao tempo.
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