27 junho 2007

┌ Ponto↔Crítico ┐ 10 Pede porque precisa

Já se esperava que o primeiro-ministro viesse a pedir um amplo consenso político para a presidência portuguesa da União Europeia. Na verdade, precisa dele – no parlamento e na praça republicana. E precisa porque, se o não tiver, parte significativa da Europa ficará intrigada sobre porque motivo haverá para que um governo suportado por uma invejável maioria absoluta não consiga um amplo consenso para um tema não disputável eleitoralmente e mesmo que fosse as eleições estão longe – quando ocorrerem, já toda a gente se esqueceu não só do Ponto 54 como de todos os outros 53 pontos.

Sem esse amplo consenso, a imagem da presidência portuguesa não ficará por certo mortalmente ferida, mas ficará politicamente fragilizada. Os negociadores portugueses, mesmo que não excedam o papel de mediadores obedientes não se sabe a quem ou a quais (o pedido interno de remissão da ponderação do referendo para depois, terá a ver com isso, relevando o temor político pelos resultados do debate) ou ainda que não passem de facilitadores zelosos e certinhos, à falta desse amplo consenso, agirão sempre com défice de credibilidade política ou pelo menos com essa sensação. E ter essa sensação é mau para mediar e para se facilitar, sobretudo quando se dispõe de mandato (não há mandato que não seja claro, concreto e preciso... É do b+a, bá.)

A posição do primeiro-ministro seria no mínimo desconfortável sem um apoio político ampliado no parlamento para a questão europeia, melhor, para o semestre da sua credibilidade na Europa e, sobretudo nesse Portugal onde a opinião pública, felizmente, ainda não se faz por decreto ou em que, quando se tenta fazê-lo, os efeitos na praça republicana são exactamente contrários aos esperados - como vai acontecendo, para o imaginável desconforto de um primeiro-ministro que ao olhar para a cauda de crebilidade que já teve, a vê fronteiriçamente muito curta e cada vez mais curta.

C. A.

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