por entre o meio milhar de diplomatas?
Se reclama ser representativa da carreira
deve dizer que representatividade expressa,
UM REDUTO Tenho por aí a «fotografia de família», quando a encontrar ela há-de chegar a esta suave luminosidade da Internet, mas ainda me recordo de um encontro no Grémio Literário, já lá vão uns bons anos, em que um reduzido grupo de diplomatas explicou e convenceu um grupo reduzido de jornalistas convidados, sobre a bondade inicial dos objectivos da ASDP – lá estavam Quartin Santos, Fernando Neves e Francisco Ribeiro Telles. E eu fui dos convencidos porque se ouviu a palavra «transparência» ser pronunciada umas setenta e duas vezes, a palavra «ética» umas trinta e quatro, propósitos de se irradiar uma «cultura de corporativismo» na carreira umas vinte e três, defesas firmes de «procedimentos de lisura» quanto a promoções e colocações de diplomatas umas onze vezes, ouvindo-se também por sete vezes afirmados apelos a cruzarem-se esforços para a «dignificação da função diplomática» e, uma só vez que bastou, o pedido para que as actividades e iniciativas da Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses chegassem à sociedade na parte útil de cidadania, numa ocasião em que a zona onde a consciência dessa sociedade costuma habitar sem roubar casa a outros, já reclamava e bem, que os diplomatas deixassem de usar punhos de renda, para não dizer mais, porque a reunião do Grémio terminou alegre, cordata e a partir dela estabelecendo-se algumas confianças recíprocas.
Os propósitos foram bem recebidos e tanto assim que ninguém contestou que uma associação de direito privado ficasse a ter sede provisória, ou definitiva que fosse, no próprio Palácio das Necessidades, paredes meias com o poder e ao lado do escrutínio institucional do exercício da profissão de diplomata.
Passados estes anos, o encontro do Grémio parece de ingenuidade.
Quando uma associação de diplomatas teme, hoje, em declarar o número de associados com que conta e com capacidade eleitoral activa; quando receia dizer o que aprova ou não nas suas assembleias gerais como se estas fossem conclaves de sociedade secreta; quando, em nome de uma esquisita discrição (apenas normal numa estrutura corporativista), omite as exigências que faz e as condições que põe face a iniciativas de elevado e inegável interesse público, submetendo tais iniciativas a declarados interesses sócio-profissionais da carreira e sem que se saiba o que da carreira representa; quando uma associação de diplomatas deixa sugerir ou permite que se lhe atribua o labéu do pára-arranca como associação, conforme os mesmos protagonistas arrancam ou estacionam na hierarquia das Necessidades, bem, então houve qualquer coisa que foi mal contada há muitos anos no Grémio, ou então que foi desvirtuada anos depois, e já não estamos a falar do mesmo.
É claro que, como associação privada que é, a ASDP não tem o dever de mostrar o que internamente lhe diga respeito, nem os estranhos têm o direito de meter o nariz onde não são chamados, designadamente em circulares internas – internas na sede provisória da associação e internas na sede do MNE que são a mesma coisa. Todavia, a ASDP apenas cai no ridículo e ridiculariza-se no ambiente de secretismo em que se enrola, quando, por exemplo, chega ao ponto de, no seu site oficial, trancar a leitura pública do que designa por «comunicados de imprensa» como sendo isso uma área reservada aos sócios… Serão comunicados da imprensa interna também? Mas isto é o menos, é secundário e até é dispensável – não há falta de comunicados e de circulares internas. O mais importante é que, se a ASDP reclama representatividade da carreira, e não apenas a de si própria sem que diga o que afinal é para além dos corpos gerentes, essa associação tem a obrigação de provar que representatividade tem. Se não quiser, cala-se como tudo o que se contenta em ser secreto e com sede provisória no secretismo, ou seja, num reduto corporativo.Carlos Albino
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