26 maio 2008

PONTO CRÍTICO 21 ■ É uma surpresa portuguesa, com certeza

Será que a presidência eslovena, melhor, a supletiva alemã,
ou mesmo a França com o seu decisivo semestre,
estejam assim tão distraídos
que tenham levado Portugal a sentir-se na obrigação
de dar este passo em frente?

UMA SURPRESA Naturalmente que surpreende este debate em Bruxelas «sobre a renovação das relações com os Estados Unidos» atiçado por Portugal. Surpreende não pelo tema do debate ou pela finalidade do debate (a proximidade da cimeira EU-EUA, a 10 de Junho, em Brdo), mas por se tratar de uma iniciativa portuguesa, assumida por Luís Amado sem grande aviso prévio para efeitos domésticos, conhecida a polémica que corre.

Surpreende também por a presidência eslovena ou a já longínqua mas supletiva alemã, não se ter lembrado disso quando cumpre à Eslovénia a organização da cimeira. Surpreende, portanto, que o núcleo duro da Europa, com presidência francesa à porta, tenha estado tão distraído, a ponto de Luís Amado se sentir na premência de lançar os dados de agenda.

O ministro justifica a sua iniciativa pelo facto de, a curto prazo, coincidirem duas situações – a eleição do novo presidente dos EUA e a entrada em vigor do novo Tratado Europeu.

Quanto ao novo presidente norte-americano, está tudo em aberto, não podendo os europeus, neste momento, fazerem muitas contas ou pelo menos contas exactas; e quanto ao Tratado, sabe-se o que ele é, e mesmo que algumas remotas dúvidas de ratificação forem levadas de vencida, está em aberto quem vai ser o presidente do Conselho, se o alto representante vai ser quem se pensa que será, e também quem irá presidir à Comissão – tudo em aberto, também deste lado, pelo que da cimeira euro-norteamericana não devem sair compromissos de monta ou de amarra político-diplomática, designadamente no sentido de uma "nova agenda transatlântica" ou de "relançamento das relações", pelas palavras do ministro.

Por ora, a iniciativa apenas surpreende por partir de Portugal de forma tão pronunciada. E não mais que a surpresa, por ora. Não há que tirar ilações, por enquanto. Aguardemos pelo andar da carruagem francesa quanto ao que está aberto do lado de cá, porque do lado de lá do Atlântico já se sabe muito bem como se escreve direito por linhas tortas, ou seja, como os ninhos de falcões podem gerar pombas e vice-versa.

Carlos Albino

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