20 março 2012

Portas. Escusava de ouvir isto

Meu caro,

Peço desculpa pelo interregno de notícias, mas após uma longa ausência tenho estado ocupado a desfrutar dos prazeres na nossa cidade de Lisboa. Para mais com este sol de Inverno. Todos os dias desço a Calçada das Necessidades e ainda não parei de ser surpreendido com as mudanças que ocorreram desde os meus tempos na Secretaria de Estado. Ainda assim, qual não foi o meu espanto quando, este sábado, reparei numa notícia da folha oficial do Palácio das Necessidades: "MNE dá 'vistos gold' a quem investe". Não resisti - confesso que tive alguma dificuldade em trocar os Réis que trazia na bolsa à cintura pelos vossos euros - e lá tive de comprar o jornal. Na página 11, sem referência à origem da informação, afirmava-se, em suma, que, quem investir mais de um milhão de euros em Portugal, quem comprar um imóvel por mais de 750 mil euros (nem sei bem quanto é isso em Réis), ou quem crie pelo menos 30 postos de trabalho, terá direito a um visto de residência.

Meu caro, não sei se vocês hoje em dia chamam a isto "vistos gold" ou "vistos de investimento". No meu tempo, o nome que lhe dávamos era outro: venda ou tráfico de vistos de residência. Gostava de saber o que o meu sucessor Sacadura Cabral, antes de ser eleito, diria de um funcionário do Serviço de Fronteiras que fosse apanhado a conceder um visto em troca de, digamos, mil euros. Pediria justiça? Exigiria a sua demissão? Depois gostava que ele me explicasse qual é a diferença para o que agora se propõe. Ou seja: quem vende um visto por mil euros é criminoso e quem o vende por um milhão é ministro?

O pior, meu caro, foi ver o meu sucessor a confirmar toda esta informação, em trajes de cavaleiro, num evento partidário que nada tinha a ver com as suas funções de Estado. Sim, meu caro, leu bem, trajes de cavaleiro. E com o ar mais sério deste mundo.

Por outro lado, também gostava de saber desde quando é que a Secretaria de Estado passou a ter competência para negociar vistos a cidadãos estrangeiros. Desde que me lembro que essa era uma tarefa que competia ao Serviço de Estrangeiros. A não ser que tenha havido uma delegação de competências na qual eu não tenha reparado. Houve, meu caro?

Ministro Plenipotenciário Marco António

7 comentários:

Anónimo disse...

Gostava de saber se também passam vistos "silver", "Bonze" e porque não "cork" que está tão na moda.

Ferreira, M.S. disse...

De facto, muito, muito mau...
cumprimentos

Anónimo disse...

Para não falçr do visto pastel de nata.

Jose Martins disse...

Que engraçado... E quem investir um milhão não terá direito a um visto platina?

Anónimo disse...

Vindo de Portas, já nada me espanta! Ao que este País chegou! Este facto é um indício de como vale tudo, haja dinheiro. E esses novos residentes ainda lhe vão pagar a campanha eleiroral, em 2015.Sempre tinham um visto "eterno"!

Anónimo disse...

Áreas em que o Governo deveria apostar para atrair investimento: Justiça, segurança interna, incentivos fiscais a quem produz riqueza e postos de trabalho, redução da burocracia e de entraves À iniciativa privada!!!Isto, SIM! O resto, são "balelas" Cumpts:)

Anónimo disse...

Dizes tu Basílio que Portas pode até vir a ser Presidente de Portugal. Presidente sim, mas não garantidamente de Portugal. Pelo marketing e o culto da personalidade que mostras num sítio webe do teu Ministério em que te deixas confundir o mister, o ministério e a tua personalidade, a tua foto e a tua foto, estás mais perto do culto, ainda bemrecente, do nosso Amado, do nosso querido bem Amado Kim il Sung, da Coreia nossa bem Amada.