16 março 2006

Necessidades/Direitos Humanos. Bernardo Ivo Cruz e posição de Ministro

Passou a referência, mas não a premência. É verdade, passou a referência às declarações de Bernardo Ivo Cruz ao jornalista Manuel Carlos Freire (Diário de Notícias, 10 de Março) sobre a recente consideração política conferida aos assuntos dos Direitos Humanos em termos que, de resto, NV devidamente tinham realçado já em 16 e 18 de Fevereiro. Dissemos mesmo que a delegação de poderes de DFA a Bernardo Ivo Cruz nesta matéria era uma inovação, excelente inovação sublinhe-se. Mas passou a referência à primeira posição pública que se conhece por parte do sub-SENE sobre a matéria. Em tempo, salda-se agora e com taxa, o que entendemos como omissão, sobretudo em função do apelo que lançámos a Bernardo Ivo Cruz para aparecer. Apelo que se mantém mas com tom de reparo, não para Bernardo Ivo Cruz mas para as Necessidades, não para o Palácio mas para a Casa que, ao que supomos, ainda é de expressão oficial portuguesa.

E porquê?

É porque, no dia, dia 15 em que a Assembleia Geral da ONU aprova, por uma maioria de 170 votos, a resolução que cria o novo Conselho dos Direitos Humanos, substituindo de vez a Comissão por tantos considerada já desacreditada e inadequada, a Casa da Expressão Oficial Portuguesa deveria ter tomado posição oficial. Não tomou.

Naturalmente que o silêncio oficial da chancelaria portuguesa nada terá a ver com algum temor decorrente do facto dos EUA terem votado contra ao lado das Ilhas Marshall, Israel e Palau – então o voto contra de Palau! Tal silêncio não deverá também ser interpretado como tendo o sabor das abstenções da Bielorússia, da Venezuela e do Irão – então a do Irão!

O silêncio oficial de Lisboa vale o que vale – vale a lassidão da nossa diplomacia, o seu comportamento distante e desligado da Sociedade, a pesporrência caluniosa de alguns intermediários que deveriam enrolar o estojo, vale a pecha de hábitos de que essa diplomacia não se desfaz, como se nada, pela Sociedade e pelo Estado, nada tivesse mudado da diplomacia dos primórdios da rádio ou - quem sabe? – dos punhos de renda da aristocracia falida.

Em concreto, essa posição oficial ou posições oficiais desse patamar são actos de Ministro – o ministro é que é verdadeiramente o porta-voz da diplomacia portuguesa e ninguém por ele. Ele é que é. E é em ocasiões como estas que raramente se repetem (não é todos os dias que a Assembleia Geral cria um órgão nivelado ao Conselho de Segurança) que os embaixadores dos EUA, de Israel, da Venezuela e do Irão que residem em Portugal, deviam ter matéria para reportar para as suas capitais – a matéria da posição oficial da capital portuguesa, já que o Sr. Viktar Shykt, embaixador da Bielorússia está acreditado como não residente (está lá longe no n.º 38 no Bd. Suchet, em Paris e pouca gente o conhece em Lisboa) e já que tanto Palau como as Ilhas Marshall nem constam no Protocolo português.

Silêncios oficiais destes são mais graves do que o duvidoso e desnecessário barulho declarativo que o embaixador do Irão, por exemplo, tanto aprecia. Com estes silêncios, Portugal até poderia ter votado contra em parceria com as Ilhas Marshall ou ter-se abstido bolivarianamente com a Venezuela que ninguém disso se aperceberia, a não ser que a dependência diplomatística da UE desse o estoiro de escândalo.

Por estas e por outras, não estranhe amiúde Paulo Gorjão e a sua excelente Bloguitica que a comunicação social «deixe cair» matéria internacional relevante, da UE à ONU. O protagonismo individual e não a matéria ainda pontua e marca a diplomacia portuguesa. Uma reunião da OSCE ou da OMC, para esta «diplomacia» apenas sobe ao estrelato mediático em função de quem vai e se convida.

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