13 janeiro 2005

São Tomé. Além do que tem sido dito…

Num momento em que, por exemplo, a França formou no interior do Quai d’Orsay uma central de inteligência para os negócios e salvaguardar a respectiva alma que é o segredo, Portugal dá este espectáculo triste de nem sequer saber construir um pequenino segredo de Estado, pequenino que seja. Pior que a provável descoordenação entre ministérios e os atropelos que à evidência os Ministérios fazem uns sobre os outros, é a vulgarização de estratégias. Que Álvaro Barreto diga que desconhecia o que Sarmento foi fazer e que este, inusitadamente, tenha chamado a si algo que deveria ter sido António Monteiro a conduzir e o primeiro ministro a conhecer ou a percebner sem hesitações estivesse em Paris, em Madrid ou em Roma, tudo isso se perdoa até porque tem sido sempre assim: a coordenação não é uma virtude dos governos portugueses, como os embaixadores tão bem conhecem e sofrem no terreno. O que choca é que sejam ministros a revelar estratégias e alvos negociais que o Estado deveria salvaguardar com prudência, cautela e responsabilidade.Enfim, razão teve Henri Monnier em lembrar que o carro do Estado rola sobre um vulcão e, claro, não apenas sobre a GALP.

China. Como o Camões é tão bom a viajar!

A comitiva do Camões para a China... Pobre Estado que tudo aguentas.

12 janeiro 2005

Banguecoque. O Número Dois é um grande número

A rádio repetiu até à exaustão as falas do Número Dois de Portugal em Banguecoque, a que a mesma rádio chamou encarregado de negócios, tratando-se do segundo secretário de embaixada Fernando Esteves Marcos. O embaixador Lima Pimentel tinha sido convocado para um dito seminário diplomático que resulta do péssimo costume português de conjugar férias com trabalho do que nem resulta trabalho e muito menos férias, porque o Tsunami não pede opinião às chancelarias. E o que é que o segundo secretário Marcos devia ter feito em vez de tanta verborreia de gabinete despejada para a rádio? Pura e simplesmente como secretário de embaixada deveria, com lealdade, ter avisado Lima Pimentel que o Tsunami não foi uma brincadeira mas uma enormissima tragédia - o que como secretário tinha obrigação de saber logo no dia 26 ; e depois como presuntivo encarregado de negócios, deveria ter dito ao embaixador - «Venha e depressa, que isto é demais para mim!» E deixava as rádios para depois, não sendo mais que número dois. O embaixador Lima Pimentel foi injustamente sacrificado no caso e o secretário Marcos que está apenas no nono ano de carreira não lucrou rigorosamente nada, antes pelo contrário, com a prosápia do mesmo caso.

Tailândia. Exemplo húngaro

Quanto ao rigor e seriedade que se exige às representações diplomáticas, até a Hungria já dá lições de transparência e rigor a Portugal. O primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany não foi em cantigas - pura e simplesmente ordenou o regresso do embaixador húngaro acreditado em Banguecoque, Janos Vandor, a Budapeste e sem retorno ao posto. Esse diplomata passou o Natal, passou o Ano Novo e por pouco também não passava o Dia de Reis em férias na Hungria, pois o Tsunami do dia 26 de Dezembro não terá incomodado grandemente a sua consciência reassumindo a missão em Banguecoque apenas no dia 5 de Janeiro...

Conclave. Um fiasco

O tal conclave foi um fiasco. Aliás, nas matérias de política externa portuguesa, há muito que os segredos de Estado são fiascos de Estado.

07 janeiro 2005

Conclave. A coisa está como dantes.

A última coisa que as Necessidades dizem, aqui em Notas Verbais é a primeira a destacar-se: «Esta habitual reflexão anual não é aberta à comunicação social»...

É nesta coisa que está a novidade. As anunciadas 160 cabeças pensadoras – segundo o MNE elas contam-se «entre Embaixadores e quadros superiores do Ministério dos Negócios Estrangeiros» faltando certamente o Embaixador na Tailândia que estava em serviço em Lisboa - debatem hoje coisas sigilosas, altamente secretas e acima daquilo a que o cidadão tem direito a saber. Já nem sequer se ousa falar do dever de saber. Por isto, naturalmente que as portas do chamado Seminário Diplomático estão fechadas à comunicação social e até mesmo ao grupo de jornalistas que as Necessidades acreditaram no pressuposto de que franquearia as portas. Nada pior para o reclamado objectivo da auto-confiança, da auto-estima e da crença no País, até porque 160 personalidades é o número mínimo para garantir confidencialidade... Santo Deus que isto faz lembrar os tempos do Ruy Patrício e suas excelentes sequelas.

E afinal, em questão, não está alguma grande guerra em que Portugal esteja prestes a envolver-se implicando delicados segredos militares e muito menos o anúncio da descoberta da pólvora. Esse seminário orquestra-se em torno de debates sobre dois temas triviais: Portugal na União Europeia e Reflexão sobre a Política de Cooperação.

Os convidados para falarem da questão europeia são António Vitorino e Victor Martins, e para a política de cooperação, Adriano Moreira e Ernâni Lopes.

Pois que segredos haverá sobre a UE que Vitorino e Martins digam que a gente bem informada não saiba? E que poderá ser dito por Adriano e Ernâni sobre aquilo a que se insiste chamar política de cooperação, que a gente não suspeite, não tenha comprovado no terreno e não tenha sentido no circuito da burocracia do Estado onde pouco ou nada se fiscalize, se avalie e se balanceie?

06 janeiro 2005

Briefing da Uma. Perguntas apenas.

Briefing da Uma. «Há respostas que não merecem perguntas, mas há perguntas a que apenas se pode responder com um silêncio que diga tudo» - toda a gente sabe quem disse isto nas Necessidades.

1 – Portugal tem alguma posição?
2 – Alguma posição é Portuguesa?
3 – Como dizem os seus franceses, a AMI é fantástica não é?
4 – Alguma coisa de Portugal equivale a posição?
5 - Sampaio vai à China ou a comitiva?

1 – UE/Conselho de Assuntos Gerais e Relações Exteriores. A presidência luxemburguesa convoca amanhã uma sessão extraordinária de Assuntos Gerais e Relações Exteriores para debater a situação humanitária na Ásia e preparar a reunião de doadores (dia 11). Portugal não tem nada de autónomo para dizer?

2 – Sudão e Somália. Portugal não tem nada de autónomo a dizer sobre o processo de paz no Sudão e na Somália?

3 – Gana. Cerimónia de investidura do Presidente ganês John Kufuor, amanhã em Acra. Portugal não envia representante de alto nível para deixar algum selo num país fundamental para a paz e estabilidade em África?

4 – Maremoto na Ásia. Portugal não tem mais nada a dizer a não ser sobre paradeiro e saúde de uns quantos portugueses turistas?
- Houve alguma reunião com as ONG portuguesas?
- A França, popr exemplo mobilizou os seus seis mais importantes grupo empresariais de águas: o grupo Suez (Lyon), Véolia Water do grupo Véolia, SAUR do grupo Bouygues, o sindicato das águas da Île de France, a sociedade das águas de Marselha, a SAGEP (Paris) e a sociedade do canal de Provence...
- Os EUA, enfim, dissolveram a «coligação» de países criada para coordenar a ajuda na Ásia, depois da acusção de quererem diminuir o papel central das Nações Unidas. Portugal disse alguma coisa sobre isto?
- A RTP, a tal do serviço público, por exemplo, está já a cobrir o choro, as ruínas, a desgraça que se sabe, santo Deus. Mas estará em Genebra, no dia 11 para cobrir a reunião de doadores das Nações Unidas? E estará em Kobé, dia 18, a cobrir a reunião sobre prevenção de catástrofes?

5 – Iraque/eleições. Alguém sabe se Portugal continua a defender eleições no Iraque no dia 30, apesar da escalada de violência recente? Ao menos disse que estas eleições «são difíceis, mas possíveis»?

6 – O embaixador em Banguecoque, depois das atoardas do número dois, falou muito bem e explicou melhor?

7 - O que é uma comitiva?

05 janeiro 2005

Agapito e Casamia. Um recusa os Açores, o outro a Madeira…

Agapito encostado à liteira, ali à entrada do Rilvas, a bater com o tacão do sapato no chão, como não podia deixar de ser imitando intensa trovoada, raios e coriscos…

- Então Embaixador, 2005 começou bem para si?
- Meu caro, Imagine no que estes tipos queriam em que me transformasse! Vem um e propõe-me ser cabeça de lista, como independente, pelos Açores…
- Aceitou?
- Como poderia eu aceitar isso se nem de longe conheço o Santo Cristo? Você acha que sou um farsante?
- Calma Embaixador! Calma!
- Qual calma! Não é que vem o outro logo a seguir propondo-me ser cabeça de lista também pelos Açores? Isto é demais! É demais para um diplomata de Freixo de Espada à Cinta! É demais! É demais!!! Isto…


E mal Agapito se sumiu escada a cima rumo ao Terceiro Andar e repetindo em cada dois degraus «É demais!», eis que entra com passada curta o único princípio do contraditório em que a diplomacia portuguesa se reconhece como fim – exactamente, o Embaixador Casamia.

- Então Embaixador, 2005 começou bem para si?
- Ai que horror! Então não é que um deles me convidou para cabeça de lista da Madeira?
- Aceitou?
- Que horror! Como havia eu de aceitar? Perderia a minha liberdade de movimentos na ilha! Você acha que sou capaz de abdicar dos meus afectos? Que horror!
- Calma Embaixador! Calma!
- E não é que vem o outro a seguir propondo-me também ser cabeça de lista igualmente pela Mdeira? Isto é demais! Que horror! Que horror! Ai que horror!!!


E lá foi Casamia pelos Claustros fora, tremelicando os finos dedos no ar e escapulindo um rosário de horrores naquele sotaque com que, pela persistência, tantas missões diplomáticas se têm transformado em missões de afectos...

Simoneta. A melhor ocasião.

O Instituto Camões ainda não foi liquidado mas a diplomacia cultural foi – não existe, se é que alguma vez existiu como tal. Quanto a Simoneta, esta é a melhor ocasião para se demitir. Ninguém sentiria isso grandemente, não há gestão de gravidade a assegurar, os despedimentos estão feitos e os concursos talhados. Bonita obra!

04 janeiro 2005

Sócrates. Não percebeu ou não quis entender

Em matéria de política externa, Novas Fronteiras começam mal, mas no sítio certo, pela designação – a Alfândega do Porto, porque isto só dá para ironizar. Há fronteiras que apenas merecem uma boa alfândega e a do Porto é das boas. Pois, na sexta-feira (dia 8), os independentes do Fórum vão discutir, na cidade que já teve os mais importantes vice-reis da República, o novíssimo tema «Portugal na Europa e no Mundo», coisa que se discute desde D. Afonso Henriques mas que pouca gente tem sentido. Tema original, portanto. Na verdade, há dois anos que democratas – por entre eles, muitos diplomatas, especialistas de relações internacionais, observadores e demais curiosos alguns escribas – desgostosos com o que o PS foi e com o que o PSD foi sendo de mãos dadas com o PP, mas também não querendo embarcar nas brincadeiras do BE e muito menos nas marchas do PCP, enfim desejavam o mínimo que se pode desejar num País em que a sua política externa está aparentemente liquidada: esperança sem cangas, debate sem vínculos de mordomia, troca de ideias sem metas nas cadeiras de deputado, conclusões que os partidos (a começar pelo PS) registassem e tivessem em conta séria.

Pois que vai acontecer no Porto? José Sócrates fala a abrir, o senhor Poul Nyrup Rasmussen, Presidente do Partido Socialista Europeu (portanto tão independente como o secretário-geral do PS) continuará a falar antes de Alberto Castro, o Director da Faculdade de Economia da Universidade Católica do Porto que dará a vez a outro independente que mais não é que António Costa, havendo ainda um debate e conclusões com o não menos independente Jaime Gama, debate esse moderado pelo também incontroversamente independente e futurível MNE, António Vitorino.

No domínio da política externa portuguesa, isto não vai a lado nenhum. Quando muito, ficar-se-á a saber que Portugal está na Europa e no Mundo. Sócrates não percebeu ou não quis entender.

10 dezembro 2004

Sampaio. O antigo embaixador em Londres, Teixeira Gomes como P. R. disse que...

Um murro na porta, claro, trata-se do Embaixador Agapito:

«Meu caro! Ouvi Jorge Sampaio. E recordo-me muito bem da amarga constatação de Teixeira Gomes em Belém onde se sentia como ‘o Senhor da Cana Verde’. Você já viu que Sampaio pode ser o senhor das canas da Índia, senhor das canas de Senhorim, senhor de qualquer cana! Tudo, tudo menos senhor da cana verde!»

Briefing da Uma. Por amor de Deus, Simoneta. Noite dos Embaixadores no Café Martinho

Briefing da Uma. Inflação de briefings. Uma hora esperada com Carneiro Jacinto. Hora tardia com Simoneta Luz Afonso. «Não é o lugar que ocupamos que é importante, mas a direcção na qual nos movemos», teria repetido Oliver Wendell Holmes a propósito.

1 – Inflação de briefings
2 – Noite dos Embaixadores/António Monteiro
3 – Queda do governo

1 – (Quando é que o porta-voz das Necessidades faz o seu segundo briefing?) - «António Carneiro Jacinto marcou para dia 15, às 11 horas, o segundo briefing. Aguardemos porque as circunstâncias são interessantes e poderá muito bem acontecer que a um embaixador à frente do MNE, suceda outro embaixador...»

(Bem, isso é às 11 horas, mas às 12 há outro briefing no mesmo local...) - «É verdade. Também a presidente e pelos vistos igualmente porta-voz do Instituto Camões decidiu agora fazer um briefing. Simoneta fala às 12 após os esperados 60 minutos de António Carneiro Jacinto, pelo que, como eloquentemente diria o antigo presidente Américo Tomás, os 60 minutos de António Carneiro Jacinto são os minutos que preenchem uma hora, iniciando-se às 12 horas uma nova hora que, prolongada por mais 120 minutos, entrará numa terceira hora porque uma terceira hora terá os mesmos minutos que a primeira e ainda como a segunda. E como no final dessas horas que até os passarinhos desde os primórdios da humanidade sabem que têm 60 minutos, serão apresentados a Revista de Letras e Culturas Lusófonas (nº 17-18) o que significa que é um número duplo antes do n. 19 e depois do 16, sobre as "Relações Luso-Marroquinas, 230 Anos" o que perfaz exactamente dois séculos e trinta anos, e ainda o livro "Os Colaços, uma Família Portuguesa em Tânger", de Jorge Forjaz que não sendo um dos Colaços no nome, só por ser Forjaz é a garantia de que as horas de Tânger têm a mesma duração das horas dos Colaços em Lisboa...)

(... por amor de Deus! Suspenda-nos essa explanação! Vá direito ao assunto e diga-se como é que só agora que o governo cai é que Simoneta fala sobre a actividade do Instituto?) - «Ainda pensando com Américo Tomás, cita-se, a actividade é uma daquelas coisas que não podem estar paradas como se viu com os Colaços de Tânger e com os 230 anos luso-marroquinos, que só não são 426 anos porque a batalha de Alcácer Quibir foi muito antes e mesmo assim D. Sebastião começou a pelejar duas horas depois, a actividade do instituto já estava planeada antes deste governo que não caíu mas apenas antecede o que se vai seguir que pode ser o mesmo ou diferente, e a dr.ª Simoneta tem essa rara intuição de que todos os minutos passam, um a um até 60, perfazendo-se assim uma hora».


2 – (Mudando de assunto, vai haver uma Noite dos Embaixadores no Martinho da Arcada. Monteiro vai?) - «O ministro António Monteiro vai estar no dia 15, às 20 horas, na «Noite dos Embaixadores». Estão confirmadas 35 presenças de representantes diplomáticos acreditados em Lisboa, com a figura e obra de Fernando Pessoa em pano de fundo. Curiosamente os embaixadores do grupo da CPLP borraram a opa diplomática, à excepção de Cabo Verde e Timor-Leste.»

(Explique essa) – Não confirmaram as presenças.

(O do Brasil, está ausente?) - «Ausente, em compensação está o embaixador Mohammed al-Rachid, da Arábia Saudita»

(E o de Moçambique?) - «Ausente, em compensação está o embaixador da China, Ma Enhan)

(E o se São Tomé?) - «Ausente, em compensação vai estar o embaixador Samir Arrour, de Marrocos)

(Mas o de Angola vai estar...) - «Também não estará. Em compensação, cada hora tem 60 minutos e temos que terminar este briefing já»

3 – (Apenas mais uma questão: a queda do governo não vai perturbar a actividade diplomática portuguesa?) - «Como os senhores sabem, os embaixadores são nomeados pelo Presidente Sampaio e tal como nos Estados em que as instituições funcionam, a actividade é uma daquelas coisas que não pode parar...»

09 dezembro 2004

Briefing da Uma. Mesmo que não fosse a pedido de Medeiros Ferreira...

E pensávamos nós que Medeiros Ferreira andaria ainda a ler Teixeira de Pascoais! Nada disso! Parece que Notas Verbais entraram nos seus hábitos e mais parece que sofreu com a nossa paragem de retempero com justa causa. Pois bem, mesmo que não fosse a pedido de Medeiros Ferreira, também o Briefing da Uma regressa amanhã, Sexta-feira. E com issso, vão igualmente reentrar em cena os nossos Personagens & Intérpretes. Quem não conhece o Embaixador Agapito que até José Sócrates pretende recrutar para as Novas Fronteiras onde, segundo se diz, já figura o Embaixador Casamia? E quem não preza o ministro plenipotenciário Charles Calixto a quem bastou uma travada síntese para fazer cair Martins da Cruz, e, que depois, como se viu, foi o único diplomata português que com a sua peculiar ovação provocava a emoção de Teresa Gouveia até à lágrima furtiva?

Notas Verbais. Como sempre.

Reentrada.

Há paragens que são boas, retemperam e proporcionam aqueles balanços que alimentam a razão como nada. E serviu este hiato para se constatar que o Ministro António Monteiro está deveras isento das partes gagas do governo, conseguiu manter o MNE à margem das circunstâncias efémeras do poder e, sobretudo, não foi protagonista de episódios que desacreditam qualquer executivo deste mundo. Até agora foi um bom embaixador de Portugal acreditado nas Necessidades e quando precisamente estava a chegar o momento de se lhe exigir mais que a intervenção sábia ou que a gestão pacificadora, eis que tem de fazer adeus a um lugar que por enquanto ou ainda é dos poucos símbolos de soberania portuguesa e dos já escassos clarinetes que podem tocar a afirmação externa do Estado sem fífias. Como embaixador acreditado nas Necessidades, António Monteiro – terceiro Ministro dos Negócios Estrangeiros nos dois anos deste governo de dois tempos – não tem sido um contratempo e trabalhou sem a «concorrência» ou sem competição calada do gabinete do Primeiro-Ministro, como ocorreu com Guterres e com José Manuel, ou, melhor dizendo, com os respectivos assessores que não raras vezes actuaram como ministros sombra dos Negócios Estrangeiros dentro do próprio governo (coisa megalómana que já vem dos tempos de Cavaco). António Monteiro tem dominado as matérias, cumpriu a agenda das obrigações internacionais sem espalhafato e preencheu a hierarquia das Necessidades com figuras de competência e não com figuras de cera, como há muito não se verificava na Casa. Não terá resolvido bem certas colocações de embaixadores, é certo; terá confiado em demasia na bondade de intenções que normalmente faz ninho nos institutos autónomos, também é certo. Mas passa e foi um benefício da dádiva (não é gralha, é mesmo dádiva) para este governo que passa.

É claro que, se continuasse, mais semana menos semana, mais mês menos mês, ter-se-ia que questionar sem dúvida que diplomacia cultural é esta, a de Portugal que pelos vistos mal ouviu uns tambores do sertão até já se envergonha da palavra lusofonia; que diplomacia económica é esta, a do Estado que não ata nem desata e não vai além dos seminários, dos encontros e das reuniões à porta fechada; que política de cooperação e de ajuda ao desenvolvimento é esta que não aparece; que relações com Espanha são estas como se Portugal fosse a Catalunha ou a Galiza; que afirmação é esta na União Europeia que não vai além da cenoura do Tratado, sabendo-se como devemos rir bem desde o conde Lautréamont quando todo o figo come o seu burro.

É precisamente quando aqui em Notas Verbais, após merecido descanso, se arregaçava a camisa, se estendia o braço a jeito para o teclado e os dedos se preparavam para destinar os fumos do écran ao ministro António Monteiro, eis que ele está de saída. E nós de reentrada. À espera do senhor que se segue...

Carlos Albino

06 dezembro 2004

Quinta-Feira. Regressamos.

Ao contrário do que alguns, alegres, esperavam e do que outros, tristonhos, já imaginavam, Notas Verbais regressam na Quinta-feira. E a culpa é do José Sócrates que, quanto a política externa e diplomacia, só falta recrutar para as suas novas fronteiras, o independente Andrade Corvo que é tão promissor como Jaime Gama... Uma tristeza. Uma tristeza a somar à «experiência internacional» de Guterres.


24 novembro 2004

Referendo. D. Afonso Henriques perguntou assim...




D. Afonso Henriques - no tempo em que, tal como hoje, as instituições funcionavam - para fundar a nacionalidade e declarar a independência portuguesa, ouvidos o Clero e a Nobreza, submeteu a referendo do Povo a seguinte pergunta:



«Concorda com a Bula Manifestis Probatum, a regra de passar a fio de espada mouros e partidários de Castela e o novo quadro institucional de vassalo e censual da Igreja de Roma, nos termos da carta régia Clavis Regni Caelorum

Segundo consta, os habitantes do Condado Portucalense – à època já muito letrados e instruídos tal como ainda hoje – confrontados com pergunta tão clara e inequívoca, consideraram a questão como óbvia, pelo que o referendo nem chegou a concretizar-se e tudo foi resolvido nas Cortes de Lamego...

12 novembro 2004

Embaixador Pinto da França. Os cinco anos de Angola

Angola entre 1983 e 1988 vista pelo embaixador português que, minuto a minuto, seguiu os acontecimentos... A pretexto de episódios do dia-a-dia e de encontros com as mais diversas personalidades angolanas, António Pinto da França que escreve bem, faz o filme desses cinco anos terríveis para o relacionamento luso-angolano e que ele e a sua equipa ajudaram a apaziguar.

A matéria está em livro, precisamente intitulado «Angola – O dia-a-dia de um embaixador» e é apresentado dia 16 (terça-feira), no Museu dos Coches.

Eça de Queirós. Os ingleses no Egipto...

Outra reeleitura. E que tal se os Embaixadores de Portugal no Cairo, em Bagdade e em Telavive voltassem às páginas a que o Eça deu o título «Os Ingleses no Egipto?» O texto acaba de sair autonomamente em livrinho com dois aviozinhos de guerra na capa... Santo Deus, como o Eça está actual!

Shimon Peres. O mistério Arafat...

Onda de livros. vale a pena ler ou reler as oito páginas do capítulo que Shimon Peres dedica a Arafat em «Tempo para a Guerra, Tempo para a Paz», saído no início do ano...

Briefing da Uma. In vino veritas

Briefing da Uma. «Há africanos que quando não têm armas na mão, pegam na lusofonia», poderemos dizer ao Embaixador Leonardo Mathias.


1 – Ouvir Leonardo em vez de Monteiro
2 – Beber do bom
3 – Toronto

1 – (Confirma-se que o ministro António Monteiro vai falar dos vectores»?) - «Esteve anunciada uma conferência do ministro para o dia 15 (segunda-feira) mas o programa foi alterado, adiado ou postergado. Em vez do ministro, quem vai falar é o embaixador Leonardo Mathias sobre «A Projecção de Portugal no Mundo». Como sabem, na sede do Instituto Dom João de Castro, às 21:30»

2 – (Nesse dia 15 há qualquer coisa nas Necessidades relacionada com vinho. É verdade?) - «É verdade. Está confirmado que, com a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, António Monteiro, terá lugar na próxima segunda-feira, 15 de Novembro, às 11:45, no Palácio das Necessidades (entrada pelo Largo do Rilvas) a cerimónia de assinatura de um protocolo de colaboração entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a ViniPortugal, cujo objectivo visa a promoção dos vinhos portugueses no estrangeiro.»

(In vino veritas?) - «Exactamente. In vino veritas, como de vez em quando a Polícia de Toronto adverte.»

3 – (A propósito de Toronto. Como é que isso ficou?) - «Ficou».

11 novembro 2004

Arafat. A escola da diplomacia papal

Sim, Notas Verbais desconhecem se o gabinete de Santana Lopes telefonou para cada uma das embaixadas portuguesas sediadas nas capitais europeias, tentando apurar o que os parceiros da UE e adjacentes já fizeram ou vão fazer na sequência da morte de Arafat. Das bandas do Vaticano, a resposta do embaixador Rocha Páris não deverá diferir muito do que se segue:


«Aqui, no Vaticano, o Estado da Santa Sé implorou oficialmente a Deus, cito, ‘que acolha na sua misericórdia a alma do ilustre defunto e que conceda a paz à Terra Santa dando dois Estados soberanos e independentes a dois povos plenamente reconciliados’. Rogo que fixe a fórmula da diplomacia papal, a qual poderá vir a ser muito útil para futuras posições portuguesas. Todavia, permita-me VEXA admitir que, em caso de Deus responder favoravelmente ao Vaticano, será então e definitivamente desnecessário mais qualquer esforço diplomático por parte da União Europeia e obviamente por parte de Portugal. Mas ainda na sequência do imperativo telefonema que recebemos nesta chancelaria, considero útil sublinhar que o Papa João Paulo II e Yasser Arafat se encontraram 12 vezes nos últimos 26 anos e que 11 desses encontros se realizaram no Vaticano. Em 1994 a Santa Sé anunciou a troca de representantes com a OLP, mas o acordo apenas foi assinado a 15 de Fevereiro de 2000 por João Paulo II e Yasser Arafat que, na ocasião, convidou o Papa para visitar Belém, o que este fez num momento em que os portugueses em peso tanto oraram como até Deus nem compreendeu.»

Assim somos. Diplomacia de Milão e de Bragança

Na verdade, morrendo Arafat em Paris, estando Sampaio na Itália, e com o governo em Bragança depois de Santana e Monteiro no Porto terem recebido o Presidente da China, Hu Jintao, o certo é que, em substância e velocidade, não se pode exigir mais à periférica Lisboa, a não ser isto:

  • a Mensagem Telegráfica de Sampaio ao Presidente do Conselho Legislativo Palestiniano («O Presidente Arafat conheceu bem a atenção que os portugueses dedicavam à situação na Palestina, o que contribuiu decisivamente para o bom relacionamento, desde sempre existente, entre Portugal e a nação palestiniana.»)

  • a Declaração aprovada pelo Conselho de Ministros, em Bragança (além das "sinceras condolências" a todos os palestinianos e à família de Yasser Arafat, o governo anunciou que estará representado nas cerimónias fúnebres no Cairo pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, António Monteiro)

  • Umas quantas declarações avulsas sem aquele sentimento de piedade no sentido que os gregos antigos davam à palavra. Também antigamente os correios designavam essas encomendas como «amostras sem valor».
  • Briefing da Uma. Do cartaginês Martins da Cruz e ao romano Seixas da Costa

    Briefing da Uma. E eis que o espírito de S. João desceu sobre a cabeça de Sampaio ao redigir a Bíblia na parte que lhe tocou, repetindo-lhe o que já dissera na Primeira Epístola: «Criancinhas, cuidado com os ídolos!»

    1 – Arafat.
    2 – António Monteiro
    3 – Seixas da Costa
    4 – Cavaco
    5 – Guterres
    6 – Constituição Europeia/Referendo
    7 – Turquia
    8 – Fernando Lima
    9 – António Carneiro Jacinto

    1 (Arafat morreu e não há Nota Oficial) – «É verdade. Até agora não houve Nota Oficial nem do MNE nem da Presidência da República. Nota Oficial com o preto no branco.»

    2 – (O ministro António Monteiro, até agora, parece estar completamente imune ao cerco de críticas ao Governo. É mérito próprio ou demérito dos críticos?) - «A despartidirização do Palácio das Necessidades será, em certa medida, um factor positivo para a diplomacia e política externa portuguesa que devem ser perpassadas pelo maior consenso nacional possível. Em diversos momentos da história recente, esse consenso foi todavia obtido pela apatia, lassidão ou mesmo falta de voz activa das Necessidades chegando-se ao paradoxo da política externa portuguesa ter ficado despolitizada ou seja ter ficado meramente dependente dos humores e do quadro mental do ‘ministro que está’ ou que ‘vai estando’ . Mas você tem razão: Monteiro tem usufruído manifestamente de grande ‘imunidade diplomática’ no carrossel 8 em que os principais partidos se divertem sem grandes ideias, sem grandes projectos, sem grandes desígnios traçados, sem rasgo. Daí que chamemos. Desde já a vossa atenção para a conferência de Monteiro, discretamente prevista para o dia 15 (21:30) no Instituto Dom João de Castro, sobre os «Vectores da Política Externa Portuguesa». Outrora, João de Deus Pinheiro falava em «grandes eixos», agora António Monteiro prefere «vectores». Pode ser que o ministro ponha o preto no branco.»

    3 – (O senhor foi muito duro para Seixas da Costa e pouco ou mesmo nada claro nessa guerra com Martins da Cruz… Pode explicar?) - «Sobre a questão do Médio Oriente, mais precisamente sobre a questão Israel/Palestina, vamos ser claros: não há processo de paz em curso, por muito que isso custe à União Europeia que anda mal com os palestianos por amor aos judeus e mal com os judeus por amor aos palestinianos não se percenedo por isto porque insistem em manter um ‘representante especial’ para o processo em curso… Possivelmente Seixas da Costa já saberia isso em Junho de 2002, mas só ele é que pode responder e não Notas Verbais. Quanto à guerra púnica, naturalmente que – conceda-se – manda a prudência avaliá-la à luz de quem primeiro abriu as hostilidades, crendo que é sobre o ‘agressor’ que devem incidir as críticas. Possivelmente Martins da Cruz foi cartaginês demais e Seixas da Costa… romano. Pondo o preto no branco, ganhou o romano mas o Mediterrâneo e até mesmo os Alpes ficaram com mais ruínas.»

    4 – (Cavaco, enfim, grande entrevista a propósito da queda do muro. Notas Verbais nem uma vírgula destinaram ao evento…) - «Tem razão, foi um evento e não mais. E como sabe os eventos portugueses resultam sempre da luta entre as grandes agência de comunicação.»

    5 – (Guterres, também enfim, vai reaparecer na política interna. Vai destinar a esse grande evento alguma vírgula?) - «Tem razão, será um evento e não mais. Aguardemos que Guterres explique porque foi Pilatos no referendo do aborto, porque foi Caifás a propósito da regionalização, Anás nos orçamentos limianos, Lázaro na política de comunicação social e Monte das Oliveiras no abandono do governo. Será um evento e não mais.»

    6 – (Também não tem dito nada sobre o referendo da Constituição Europeia…) - «Depois de ouvirmos Jorge Sampaio repetidamente sobre esse matéria, apenas esperamos que, um dia destes, a folha oficial publique um decreto presidencial que obrigue todos os portugueses a dizer sim. Não tardará muito.»

    7 – (E sobre a Turquia, Notas Verbais nem tugem nem mugem. É demais!) - «A Turquia ainda vai ser um dia a nossa imensa Ilha da Madeira! Por ora, nada mais temos a acrescentar.»

    8 – (O que pensa sobre Fernando Lima?) – «Santo Deus! Que pergunta! Fernando Lima está muito aquém de António Ferro! Perguntas dessas apenas se fazem para além de António Ferro! Até Cavaco Silva sabe isso e você não sabe?»

    9 – (O porta-voz oficial das Necessidades anuncia briefings sobre política externa. Notas Verbais vão levar tremenda machadada.) - «Qual machadada! Os briefings do porta-voz do MNE, António Carneiro Jacinto, serão apenas quinzenais, já a partir de 17 de Novembro.»

    10 novembro 2004

    A tal Paz. Dez perguntas.

    1 -Então é preciso haver um Martins da Cruz a fazer acertos de contas privadas para os diplomatas portugueses se agitarem?
    2 - É necessário chegar à hora crucial das promoções para os diplomatas descobrirem planos inclinados portugueses por todo o lado?
    3 - É necessário uma Teresa Gouveia a riscar o céu como uma estrela cadente para os diplomatas fazerem exercícios com o benefício da dúvida como se isto fosse telescópio de astrónomos?
    4 - É necessário haver um, dois, três ou talvez quatro «talibãs» a agirem no momento aziago das colocações para os diplomatas espremerem a intriga que é um fruto português que dá sumo como nenhum?
    5 - É necessário que haja um Secretário de Estado a fazer disparates nos consulados onde a honra tantes vezes é honorária, nas viagens que são circuitos e nos planos que não são planos, para os diplomatas abanarem as portuguesas cabeças para um lado ou para o outro conforme a pressão ou o grupo de pressão?
    6 - É necessário haver diplomacia paralela para que não se questione a diplomacia curva, a diplomacia secante e a diplomacia tangente?
    7 - É necessário estalar o escândalo de um cunha para a diplomacia acertar a hierarquia familiar dos cunhados?
    8 - É necessário que não haja «massa», que não haja uma resma de A4 e nem sequer haja um rolo para o fax para que se escrutine as questões de fundo da política externa e da actividade diplomática?
    9 - É necessário haver mais chefes que índios para os chefes fazerem sinais de fumo para os que eles julgam que são índios?
    10 - É necessário que haja postos de primeira para que caia o Carmo e a Trindade por causa dos postos de segunda e de terceira?

    09 novembro 2004

    Sampaio. Do poder moderador ao poder comentador

    É verdade. Surpreendemos o embaixador Agapito na célebre Cozinha Velha das Necessidades. Estavamos a sós, sob a paz daqueles azulejos e junto do enorme tampo de pedra onde, segundo se diz, alguns ministros ferozes do passado esquartejavam às duas da manhã os diplomatas que ousassem criticar a política externa portuguesa.

    «Meu caro, outrora aprendia-se na faculdade que o nosso Presidente da República tinha um poder moderador, que era uma semi-espécie de cada um dos poderes moderados... Agora? Agora, meu caro, temos um Presidente da República que tem o poder comentador! Caramba! Ele não modera! Só comenta! Vai a Cáceres, comenta. Vai a Huelva, comenta. Vai ao Alentejo, comenta. Até no banquete que lhe oferecido pelo presidente da Itália, Carlo Azeglio Ciampi, foi comentador. Recebe embaixadores na véspera de partida para as capitais e comenta, comenta, comenta. Deixou de moderar! Adeus lições de faculdade!»

    Agapito olhou à volta, olhou desconfiado, olhou para o tecto da Cozinha e constatando a ausência desse grande princípio do contraditório que é o Embaixador Casamia, numa estranha e inusitada voz baixa como quem revela uma grande descoberta, confidenciou: «E sabe? O meu caro sabe que aprendi com esse comentador chamado Carlos Magno que um comentador não passa de um site em construção?»

    E é também verdade que o Embaixador Agapito ficou tempos e tempos calado a olhar para aquele tecto como se tivesse encontrado nalgum dos azulejos o exemplo acabado do poder comentador. «Adeus poder moderador, adeus... Site em construção...» Ainda se ouviu ele dizer.

    Iraque. Moral das tropas...

    Se há actividade externa do Estado Português que deveras seja melindrosa, sem dúvida que é aquela que a presença da GNR no Iraque suscita. Os portugueses foram e estão a revezar-se com uma finalidade estritamente securitária - até porque a GNR é uma força de segurança - mas o cenário é militar. É de guerra. Integrados no comando italiano, já safaram os italianos de situações de encurralamento com uma actuação no terreno que foi exemplar no ponto de vista militar - fizeram com surpreendente eficácia mais do que lhes foi pedido, muito mais do que lhes é exigido e muito acima do que os militares italianos esperavam dos portugueses. Mas são homens, homens que estão no terreno e para quem pouco dizem os comentários políticos de Lisboa escritos no sofá, por mais brilhantes que sejam. Naturalmente que sobre a questão iraquiana, todos os comentaristas domésticos de todas as sensibilidades, têm a moral em cima. Aliás, uma das condições para se ser comentarista de êxito é ter a moral em cima pelo que, mesmo que ela esteja em baixo, para o comentário correr como bom é necessário disfarçar.

    Ora a demora, o arrastamento ou a forma como a decisão da prorrogação da presença da segurança portuguesa disponibilizada para o Iraque foi tomada e sobretudo gerida, não só feriu a moral dos que estão lá, como também chegou a contaminar a moral dos que vão partir. E a moral de uma força de segurança que no terreno acaba por funcionar como tropa a sério num cenário militar e de guerra evidente, não se levanta com meia dúzia de reportagens para revistas de fim de semana, nem como se chegou a pensar com um cantor cuja voz por si só já será um risco moral, e muito menos com uma bola de futebol autografada por um craque como aquela que Teresa Gouveia lá foi colocar no perfeito jeito de tiro curvo da política. Mas também, de modo nenhum, tal moral se eleva com este ambiente de «desresponsabilização» pela presença da GNR no Iraque, em jogos formais que não deixam de ser jogos florais. O assunto é sério demais. Se num primeiro momento - o inicial - se admitia uma discussão entre os órgãos de soberania sobre quem é competente para assumir a decisão, retomar esse jogo de pinque-pongue agora, é coisa trágica, repercute-se na moral da GNR e faz desfalecer a diplomacia implicada no caso e, já agora, também implicada no terreno.

    C. A.

    08 novembro 2004

    Henrique de Freitas no Camões. Visita tudo menos ad limina...

    E fez bem o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros em entrar pelo Instituto Camões dentro, sem aviso prévio, colhendo de surpresa do mais alto ao mais baixo - merece foto. Enfim, foi tudo menos uma visita ad limina, nesta «diplomacia cultural» em que são mais os papas que os cardeais! Sabemos que Henrique de Freitas visitou todas as salas do massacrado instituto autónomo do MNE, apertou a mão a todos os funcionários, falou com todos atentamente. Não vale a pena ocultar: o Instituto Camões, desde o seu início, tem andado de naufrágio em naufrágio. Além da falta de orçamento, há falta de discernimento, de comedimento, de temperamento e de todas as palavras terminadas em -mento como feijão e batata doce. As Embaixadas e Consulados Gerais que ouvem as universidades das respectivas áreas de jurisdição, sabem muito bem ao que estamos a referir. Há situações de envergonhamento para Portugal.

    Seixas da Costa. Memória puxa memória

    É claro que a memória puxa outras memórias. De partida para Brasília, ao embaixador Seixas da Costa deu-lhe agora para evocar Arafat e com os olhos em Gaza para traçar breve quadro da tragédia do Médio-Oriente. Não sabemos, hoje, se não teria sido melhor Seixas da Costa ter escrito esse e outros mais textos como sucessor de Miguel Angel Moratinos, portanto na qualidade de Representante Especial da UE para o Processo de Paz no Médio Oriente...

    Nessa guerra Martins da Cruz - Seixas da Costa, ninguém ganhou. Perdeu a diplomacia portuguesa.

    Incómoda paz. A das Necessidades.

    Se alguma coisa deveras incomoda é a paz dos cemitérios. O Palácio das Necessidades faz mal se não se interroga sobre tal paz...