Hidra. O Palácio das Necessidades desde sempre tem evidenciado um problema de comunicação – ou não comunica ou quando comunica, comunica mal, sem sentido ou em função de finalidades que não são as da comunicação. Aliás, é o seu grande problema, o seu principal problema específico. Comunicação
latu sensu: problema de comunicação interna (seja em que sentido for, a comunicação interna, ascendente ou descendente, esbarra em
sábios filtros cujas cabeças renascem como na hidra), problema de comunicação para e com o exterior. Meios tem, os meios não faltam, até abundam, o que o Palácio das Necessidade não tem é a solução, além de que uma solução para o problema apenas pode ser encontrada com a identificação do problema, a consciência do problema e o entendimento do problema, o que supõe vontade política para perguntar
«Qual é o problema?» e, também, vontade política para aceitar a solução, uma solução.
É bem verdade que
um ou outro dos 19 ministros que, desde a saída de Rui Patrício, têm desfilado pelas Necessidades, procurou resolver esse «problema» de comunicação, todavia sem o identificar com rigor, com exactidão e em função dos interesses da diplomacia, da política externa e da imagem do Estado. E porque, por vezes traídos pela segurança partidária, não fizeram esse trabalho de casa, as soluções – todas elas efémeras – não passaram de cenários, de aparelhos, alguns vistosos, quase todos pontuais (OSCE, UE, por exemplo) que se esgotaram quando os cenários, cheirando a mordomias, tiveram que ser desmontados. Ou então, noutro tipo de expedientes em que a falta de rigor na identificação do problema ficou mais à evidência, as «soluções» mais não visaram do que resolver problemas de imagem do ministro, da actuação do ministro, das aflições ou êxitos do ministro, da sobrevivência ou afirmação de pujança política do ministro, secundarizando o essencial do problema de comunicação do Palácio das Necessidades que, obviamente, não é o problema de comunicação do ministro – este faz parte daquele, devendo ser naquele uma gota de água, porquanto se o ministro for bom, a sua gota de água pode colorir o oceano.
Nestas circunstâncias, perante circunstâncias, factos e ocorrências em que se exigiria uma reacção do Palácio das Necessidades, este não reage ou se reage é por acaso, sendo muitas vezes este acaso decorrente da reprimenda directa do ministro «ao primeiro que apanhar», o que é mais difícil quando ele está longe. Aliás quando ele viaja, parece que todo o Palácio em viagem está.
É claro que obscurantistas de todos os géneros – que os há também nas Necessidades - só têm a agradecer aos que insistem em não identificar o problema e dar-lhe solução, contribuindo para a desmoralização dos esforços sérios de diplomatas e da própria Sociedade para recolocar dignidade na imagem externa do Estado, contribuindo também para a confusão da acção diplomática com o espectáculo, como na recente experiência que foi uma experiência de obscurantistas
* típicos.
* Parece um paradoxo mas é próprio dos obscurantistas falar muito sem dizer nada, impedindo ou fazendo impedir que alguém diga alguma coisa mesmo sem falar